O Diário de Anne Frank, escrito entre 12 de junho de 1942 e 1º de agosto de 1944, narra de forma efusiva os dramas da jovem Anne Frank diante da completa mudança instituída pela perseguição nazista, que forçou sua família a abandonar todo o conforto de suas vidas e, em prol da sua sobrevivência, isolar-se em um esconderijo por mais de dois anos. O presente trabalho intenciona apresentar algumas considerações a respeito das vivências traumáticas experienciadas pela jovem judia dentro do “Het Achterhuis” (Anexo Secreto), as quais foram determinantes para o desencadear de conflitos internos tão lancinantes quanto aqueles suportados no contexto externo, tais como o processo de “adultecer” forçado pelo desamparo e os dilemas afetivos potencializados pelo confinamento. De modo a subvencionar o trânsito analítico dos conteúdos subjetivos, refletidos na escrita memorial traumática de Anne Frank, utilizar-nos-emos, em especial, mas não exclusivamente, dos construtos psicanalíticos de Sigmund Freud (1900, 1905, 1923, 1924, 1931) que situam desde os efeitos inquietantes do desamparo até o esforço torpe da psiquê para alcançar a dissolução do complexo edípico.