A Volkswagen e a ditadura: a colaboração da montadora alemã com a repressão aos trabalhadores durante o regime civil-militar brasileiro

Abstract

RESUMO O artigo problematiza a relação da Volkswagen com a ditadura civil-militar brasileira inaugurada com o golpe de 1964. Analisamos em particular a colaboração da montadora de origem alemã com o aparato repressivo do regime, que contou com o fornecimento de informações sobre os trabalhadores da empresa para os órgãos de vigilância e controle do Estado. Utilizamos fontes da empresa, documentos da repressão sediados em arquivos públicos e materiais produzidos pelos trabalhadores e sindicatos, além de depoimentos e dos relatórios das comissões da verdade. O trabalho se insere nos marcos da discussão sobre a relação do empresariado com a ditadura brasileira, indicando as estreitas imbricação e inserção das grandes empresas junto ao aparelho de Estado no período, o que incluía muitas vezes colaboração com a repressão.

Empresas e ditadura civil-militar brasileira: os editoriais do jornal Folha de S. Paulo em uma perspectiva histórica

“…Como mencionado anteriormente, alguns trabalhos já vêm sendo realizados nessa linha por historiadores, cientistas políticos e administradores nos últimos anos (Campos et al, 2020). À guisa de exemplo, estão as pesquisas sobre as relações entre ditadura militar e empresários: da indústria farmacêutica (Bortone, 2014(Bortone, , 2018, das empreiteiras de obras públicas (Campos, 2020), da Volkswagen do Brasil (M. A. C. Silva, 2018;M. A. C. Silva et al, 2022) e da imprensa brasileira (C. L. Silva, 2005).…”

Corporations and the Brazilian civil-military dictatorship: the editorials of Folha de S. Paulo newspaper from a historical perspective

“…As mentioned earlier, historians, political scientists, and organizational theorists have carried out some studies along these lines in recent years (Campos et al, 2020). Research on the relationship between the military dictatorship and businesses are examples: Bortone (2014Bortone ( , 2018 researched the case of the pharmaceutical industry, Campos (2020) explored the case of public works contractors, M. A. C. Silva (2018) and M. A. C. Silva et al (2022) discussed the participation of Volkswagen do Brasil, and C. L. Silva (2005) studied the behavior of the Brazilian press during the dictatorship. Lemos (2020) addresses the convergence between the military and business owners, highlighting the role played by the ESG in the pre-coup.…”

“…However, in addition to the historical method, organizational research can, and should, engage in different historiographical lines (a set of historical research that, in permanent dialogue, provides the theoretical and empirical basis for a thematic approach). On the one hand, historical research shows (as a source of data and/or methods) power relations inherent to the dominant ideological reproduction that tend to naturalize organizational thinking and action, demonstrating the political commitment of the intertwined relationship between the company, government, and society (A. S. M. Costa, D. F. Barros, & Martins, 2010;M. A. C. Silva, Campos, & A. S. M. Costa, 2022).…”

“O NOVO VEIO DE NOVO” - MEMÓRIA & APAGAMENTO NA/DA PUBLICIDADE DA VOLKSWAGEN

“…Apesar das denúncias e dos relatos de trabalhadores, publicados no Jornal Operário da época, a direção da empresa agia na contramão dos fatos divulgando através da revista "Família VW" que todos os cuidados de saúde ficavam a cargo do setor de médicos "setor de máxima importância dentro do sistema de relações humanas adotado pela Volkswagen do Brasil em favor da paz e da justiça social" (Silva;Campos;Costa;2021, p. 151) e que mantinha as condições de higiene e de trabalho adequadas a "um maior  V. 9  N. 1  P. 41 ARTIGOS equilíbrio médico social, eliminando possíveis causas de doenças; tratando as doenças e orientando condições de trabalho sempre melhores." (Silva;Campos;Costa;2021, p. 151).…”