EditorialA dor pélvica crônica (DPC) na mulher é uma condição comum e debilitante, com etiologia complexa, usualmente resultante da interação de vários sistemas -gastrointestinal, urinário, ginecológico, músculo-esquelético, neurológico e endocrinológico 1 , influenciado ainda por fatores socioculturais e psicológicos 2,3 . Permanece pouco compreendida, gera ansiedade, além de extensivas e repetidas investigações. Pela falta de diagnóstico correto, frequentemente, o tratamento limita-se ao alívio temporário e insatisfatório dos sintomas.Embora os diagnósticos mais comuns das causas de dor pélvica crônica na mulher sejam endometriose, aderências, síndrome do intestino irritável e cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa, o envolvimento do sistema músculo-esquelético na origem e perpetuação da DPC tem sido cada vez mais demonstrada [4][5][6] . Em clínicas especializadas no atendimento a mulheres com DPC, é comum encontrar pacientes submetidas a várias cirurgias, com diagnósticos repetidos de endometriose pélvica e aderências como causa de sua dor e que, apesar dos tratamentos realizados, não apresentaram melhora significativa. Após avaliação cuidadosa, não raramente se encontra como causa primária a dor miofascial, envolvendo o assoalho pélvico e a parede abdominal 7,8 . Dificultando ainda mais o diagnóstico, é muito frequente a interação e a sobreposição dos sintomas da dor de origem miofascial e os clássicos achados das síndromes do intestino irritável e cistite intersticial/síndrome da dor vesical. Cerca de 30 a 50% das mulheres com DPC têm comprometimento vesical (é possível ocorrer apenas uma exacerbação dos sintomas envolvidos, normalmente com a micção, como aumento da frequência urinária e sensação dolorosa com o enchimento vesical nessas mulheres com hiperalgesia) 9,10 . A síndrome miofascial abdominal é caracterizada por dor intensa e profunda originada em pontos dolorosos e hipersensíveis, envolvendo músculos e/ou fáscias musculares, podendo causar dor em repouso ou quando estimulados por movimentos (recrutamento das fibras musculares locais) ou compressão local. Diferentes mecanismos fisiopatológicos podem estar envolvidos na origem e manutenção desses pontos dolorosos, entre eles: isquemia, micro e macrotraumas (cirurgias) e infecções-inflamações envolvendo essas estruturas e terminações nervosas locais. De qualquer forma, um elemento comum a todos esses mecanismos é uma reação inflamatória local e, algumas vezes, sistêmica. Ela, por si só, é capaz