ResumoObjetivOs. Caracterizar a população que sofreu abortamento; investigar a existência de ansiedade e depressão; verificar se existe ou não sentimento de culpa após o abortamento e comparar os resultados entre mulheres que sofreram abortamento espontâneo e as que provocaram-no. MétOdOs. 50 mulheres com abortamento espontâneo e 50 com provocado foram entrevistadas 30 dias após o abortamento. Foi realizada entrevista com questões abertas e fechadas e aplicada a escala Hospital Anxiety and depression.
intROduçãOA gravidez tem um significado simbólico particular para cada mulher. Varia de acordo com a estrutura de personalidade, associada à história de vida pregressa e o momento atual de cada uma. Quando não desejada, a maternidade pode ser opressiva, já que a gestação altera o senso físico da mulher e convida-a a reorganizar vários aspectos de sua identidade, como a relação com o seu corpo, com o pai da criança e seus planos para a vida. Quando a gestação conscientemente desejada é perdida, também ocorre uma alteração na identidade, levando à sensação de fracasso pessoal.Culpa é emoção experimentada pela mulher quando há um desvio da sua condição de totalidade, é sentida em função dos desvios havidos dos padrões estabelecidos para o comportamento 1 . "A culpa manifesta-se com especial agudeza quando nos sentimos inaceitáveis perante nós mesmos, emaranhados em conflitos de dever que nos dividem(...)" 2 .No Brasil, onde a legislação só permite o aborto intencional em poucas exceções -acaba sendo um conflito de dever estabelecido moralmente, pois o significado particular de cada gestação faz parte do contexto individual, no qual, por vezes, a expectativa social da maternidade é vista como vivência maravilhosa, ideal, e a mãe deve desempenhar seu papel com perfeição 3 . A transgressão das leis morais desencadeia conflitos nos quais uma das saídas é a culpa, pois o conflito moral exige despertar e reorganizar a consciência 4 . No aborto por anomalia fetal letal, a autorização judicial ameniza o sentimento de culpa, conferindo ao casal o sentimento de adequação social 4 . O abortamento pode ser provocado quando a interrupção da gravidez é decisão transformada em alguma ação com essa finalidade, ou espontâneo, quando a perda do feto não é consequência de manipulação voluntária. diagnosticar o abortamento como provocado tampouco é fácil. Em geral, só pode ser feito pela informação da própria paciente, de familiares ou daquele que o realizou. Sem esse depoimento pessoal, raramente se pode distinguir pelo exame clínico a natureza do evento 5 .Os motivos que levam a mulher a interromper a gravidez envolvem aspectos particulares e individuais, de modo geral fundamentadas em questões sociais, econômicas e emocionais, por vezes permeada pela violência doméstica ou sexual 6,7,8 .No Brasil, o Código Penal de 1940 permite o abortamento nos casos de estupro e na existência de risco de morte materna. Para as situações de diagnóstico de anomalia fetal letal é necessária a autorização judicial para a interrupção da gestação por ano...