A s doenças perfurantes são patologias em que ocorre migração transepidérmica de componentes da matriz extracelular da derme, por inflamação e/ou degeneração. Existem quatro tipos clássicos: Doença de Kyrle, Elastose perfurante serpiginosa, Colagenose reactiva perfurante (CRP) e Foliculite perfurante. As formas adquiridas são consideradas uma entidade distinta, a dermatose perfurante adquirida (DPA).1 A sua prevalência atinge os 10% nos hemodialisados do Reino Unido e da América do Norte.1-3 Na população diabética estima-se em 50%. No entanto, a DPA é pouco conhecida e pouco diagnosticada.2 Os principais factores associados são a diabetes mellitus tipo 2 (DM2), a insuficiência renal cró-nica (IRC), sobretudo se em hemodiálise (HD), a hipertensão arterial crónica e a nefropatia a Imunoglobulina A.2-8 É mais comum na DM2 (72,7%) do que na DM tipo 1 (27,3%).1,3 Surge em média 20,3 anos após o início da DM sem necessidade de HD, 14,5 anos após o início da DM com necessidade de HD, e 5,3 anos após o início da HD.1 Dois estudos mostraram que a grande maioria dos diabéticos (90,9%) tem pelo menos uma complicação quando surge a CRP: nefropatia (90,9%), retinopatia (81,8%), doença arterial periférica (45,5%) ou neuropatia (45,5%).1,3 Nos indivíduos susceptíveis, o trauma superficial (frequentemente a coceira devido ao prurido) provoca necrose das fibras de colagénio da derme com consequente eliminação transepidérmica. Trata-se de um processo auto-limitado, mas recorrente.2 A idade média de apresentação desta DPA é os 56 anos.3 As lesões típicas são placas, pápulas e nódulos com 4 a 10 mm, que umbilicam em 3 a 5 semanas e regridem em 6 a 8 semanas, ficando com um tampão queratósico muito aderente cujo destacamento pode sangrar. Posteriormente resta apenas uma cicatriz ou mancha hiperpigmentada.1-5 As lesões localizam-se predominantemente nas superfícies extensoras dos membros e das mãos (63,6%), tronco (59,1%) e cabeça (27,3%), sendo mais frequente a localização múltipla (72,7%). Os sintomas mais frequentemente associados são o prurido (72,7%) e a dor (9,1%). 4 As lesões são reproduzíveis em 31% dos casos (fenómeno de Koebner).1-4 O diagnóstico é clínico e histopatológico, implicando o cumprimento dos critérios de Faver: histopatologia com eliminação transepidérmica de fibras de colagénio necróticas basofílicas numa depressão epidérmica em forma de chávena; pápulas ou nódulos umbilicados com centro queratósico aderente; e início depois dos 18 anos.1 O diagnóstico diferencial da CRP inclui as outras doenças perfurantes, o prurigo nodular e o líquen plano hipertrófico.
RE SU MOApresenta-se um caso de dermatose perfurante adquirida, frequentemente associada com diabetes mellitus e insuficiência renal crónica. Trata-se de uma senhora de 61 anos, diabética, com um quadro de pápulas e nódulos umbilicados, com centro queratósico e muito pruriginosos, localizados na face extensora dos membros inferiores. O diagnóstico de dermatose perfurante adquirida e a respectiva terapêutica foram concretizados apenas 6 anos após a apresentaç...