INTRODUÇÃOÀs vezes o psicanalista se surpreende efetuando um procedimento que não faz parte de sua prática, tal como uma ação, um reasseguramento, uma sugestão, um aconselhamento, etc., desobedecendo à regra da abstinência 1 . Caso utilize a técnica de forma ortodoxa, sentirse-á constrangido, imaginando que agiu de forma errada, questionando-se sobre a integridade de sua função psicanalítica. No entanto, se mantiver ou retomar sua função analítica investigativa, procurará verificar o efeito de seu procedimento, isto é, sua validade, podendo confirmar ou não sua suposta falha.Propomos que os procedimentos que o psicanalista deve utilizar são todos aqueles que permitem que a dupla analítica caminhe em direção ao desconhecido, visando a ampliar o universo mental, desde que se mantenham os fundamentos do método psicanalítico. Conhecemos os procedimentos descritos pela teoria da técnica, 2-6 que, além das interpretações, incluem confrontações, esclarecimentos, perguntas, analogias, questionamentos, etc. Ultimamente, além desses procedimentos, vêm sendo estudadas e valorizadas as sucessões de movimentos relacionais e emocionais que ocorrem entre os membros da dupla 7-11 como fatores importantes para que elementos não apropriados para o pensamento, manifestados através de identificações projetivas patológicas, sejam "metabolizados" pelo analista. Isto é, o analista não se deixa engolfar pelos elementos projetados e pode nomeá-los, simbolizá-los. Essa simbolização permite que eles entrem na rede simbólica que constitui o pensamento, possibilitando desenvolvimento na capacidade de pensar*.Procedimentos, colocação em cena da dupla ("Enactment") e validação clínica em psicoterapia psicanalítica e psicanálise Roosevelt M. Smeke Cassorla* * Professor Titular Colaborador do Depto. de Psicologia Médica e Psiquiatria-Faculdade de Ciências Médicas -UNICAMP. Membro Efetivo e Analista Didata -Sociedade Brasileira de Psicanálise de S. Paulo. * Considera-se "capacidade de pensar" à potencialidade do indivíduo perceber coerentemente a realidade para defrontá-la em forma adequada, através do desenvolvimento das funções de atenção, memória, raciocínio e juizo 12 , com possibilidade de simbolizar 13 e criar redes complexas de símbolos, que serão necessários para sonhar, devanear, articular idéias, formar conceitos, teorizar, criar sistemas científicos, etc. 14 Para a psicanálise, essa funções ocorrem através de um tipo de funcionamento mental chamado "não psicótico", que se contrapõe ao "funcionamento psicótico" 15 , em que essa funções se mostram deterioradas, podendo criar-se mecanismos delirantes e alucinatórios através dos quais os elementos impossibilitados de serem pensados são evacuados. Considerase que os dois mecanismos coexistem em todos os seres humanos e interagem dialeticamente, ainda que não se tenha consciência disso. A predominância extrema dos mecanismos psicóticos, e a forma como eles se articulam, leva ao que fenomenologicamente se considera psicose (em suas várias vertentes) pela Psiquiatria. 427 R. Psiquiatr. RS, 25...