RESUMEN
O rápido declínio das taxas de fecundidade no Brasil, de uma média de 6 bebês nascidos vivos por mulher em 1965 a 2,5 em 1996, occorreu num contexto no qual o aborto induzido é ilegal e a esterilização não foi autorizada pelo Código de Ética Médica antes de 1997. No entanto, mais de um quarto de brasileiras, unidas e solteiras, escolhem a esterilização até os 30 anos de idade. Esta pesquisa analisa narrativas de gravidez de 30 brasileiras de baixa renda, com 25 a 50 anos de idade, com a finalidade de entender como elas representam sua própria atuação (agency) e a atuação de outros, em relação a decisões sobre a gravidez. O protocolo de análise de agência (agency), tal como ela é representada nas narrativas, comprende três categorias analíticas: a agência do outro, em gravidezes não planejadas; a agência recuperadora–quando a mulher reassume o controle por meio do aborto induzido ou da aceitação da maternidade; e a agência antecipada, no qual a sua decisão incide sobre o futuro, por meio da esterilização.
Brazil's rapid fertility decline, from six births per woman in 1965 to 2.5 in 1996, occurred in a context where abortion is illegal and sterilization sanctioned (until 1997) by the medical code of ethics. Still, more than one‐quarter of Brazilian women, both single and in stable union, choose sterilization by age 30. This research analyzed 30 pregnancy narratives of low‐income Brazilian women aged 25–50 to understand how they represent their agency, and the agency of others, in relation to pregnancy decisions. Three analytical categories comprise my method for examination of agency as represented in narrative: proximal (the agency of others) in unintended pregnancy; recuperative agency—reassuming control with abortion or embracing motherhood; and pre‐emptive or forward‐acting agency, through sterilization.