E xiste certo consenso na literatura sobre o período pós-abolição no Estado de São Paulo de que os negros, sobretudo os libertos, foram afastados das atividades produtivas centrais pela competição dos imigrantes. Estes teriam monopolizado os contratos de colonato nas fazendas de café, que forneciam algumas oportunidades para acumular dinheiro e adquirir terras ou propriedades urbanas, e também teriam monopolizado os ofícios artesanais, deixando aos negros os empregos precários, mal remunerados e desprestigiados, tais como o serviço doméstico, o comércio ambulante e os serviços auxiliares nas fazendas de café, como o desmatamento ou o conserto de cercas e estradas. Nas suas explicações pelas vantagens dos imigrantes, os autores recentes geralmente se contrapõem aos argumentos mais antigos de Florestan Fernandes (1978) e outros (cf. Beiguelman, 1978:114-115; Costa, 1999:341; Durhan, 1966:28-29), que afirmam que os libertos eram mal 509 * Versões anteriores deste artigo foram apresentadas no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, em 2008, e no seminário Imigração e raça na conformação das identidades e da estrutura social paulista, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), também em 2008. Agradeço os comentários dos participantes de ambos os eventos, especialmente Sérgio Nadalin e Oswaldo Truzzi. Também agradeço a ajuda dos funcionários da Fundação Pró-Memória de São Carlos. Daniela Barcellos ajudou na organização do banco de dados. Esta pesquisa recebe o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (bolsa produtividade e auxílio à pesquisa).