Afetar e ser afetado pelo acontecimento: coberturas jornalísticas da Aids e impactos sociais

Abstract

Resumo Neste artigo, o objetivo é discutir a Aids como acontecimento disruptor, em duas dimensões: sobre as relações sociais e sobre as coberturas jornalísticas que dela têm sido feitas. Deriva dessa condição seu caráter exemplar para a exploração da noção do poder de afetação de certos acontecimentos. As reflexões sobre o poder disruptor - e por isso mesmo emblemático - da Aids como acontecimento que afeta e é afetado pela vida social e pelas coberturas jornalísticas que se dão a partir de algumas investigações sobre o tema que temos desenvolvido já há mais de duas décadas. Quando surgiu como acontecimento problemático, a Aids forçou mobilizações médico-científicas e sociais diversas na tentativa de compreendê-la, movimento que afetou significativamente a cobertura noticiosa sobre a síndrome e os acontecimentos por ela desencadeados.

“Então eu vim flagelada”: a imagem profana na circulação midiática

“…Nesse cenário, uma mesma imagem é disputada e acaba por produzir diferentes sentidos em função dos múltiplos referenciais pelos quais ela pode ser compreendida. Esse processo se relaciona ao poder hermenêutico do acontecimento (Queré, 2005), inscrevendo-o numa dialética do agir-sofrer: o acontecimento não apenas provoca deslocamentos na vida das pessoas que são afetadas por ele, como também pode ter seu curso alterado, inclusive por essas mesmas pessoas (Carvalho, 2015).…”

Gender, public policy and medical knowledge on the pages of Mulherio feminist journal (1981–1988)

“…Sobre a discriminação fortalecida pelo surgimento da AIDS, cf.Barreto (2015) eCarvalho (2015).ANO XIII, Nº 25, Julho/2022 ISSN: 2177-9961…”

Os Circuitos Afetivos Das Narrativas E Contranarrativas Transnacionais Do Hiv E Da Aids

“…Fazer (teia ou tecido) com fios. Parte desse processo sobre tecer narrativas advém da apreensão de diversas leituras que elucidam esse processo contranarrativo nos documentos escolhidos (NASCIMENTO, 1998;CARVALHO, 2015;DOURADO, 2015;TIMERMAN et al, 2015;INÁCIO, 2016;BRAGANÇA et al, 2017;DUARTE et al, 2017;KIND et al, 2017;DAMASCENO et al, 2019). As contranarrativas surgem como respostas às narrativas do HIV e da Aids.…”

“…(CARVALHO, 2015, p. 268) Há de se considerar que a descrição dos medicamentos antirretrovirais também se insere no processo contranarrativo, principalmente ao notar que a realidade do tratamento da infecção modificou-se significativamente ao longo dos anos. Assim como alguns autores mencionaram o uso de "coquetel" ao tratamento antirretroviral (BARATA, 2006;CARVALHO, 2015;TIMERMAN e MAGALHÃES, 2015), reformula-se a compreensão e a própria narrativa de tratamento do HIV ao ressignificar o uso da palavra "coquetel". A origem do nome sugeria a relação de inúmeras composições medicamentosas, com inúmeros comprimidos a serem ingeridos por dia.…”