e Luiz Arnaldo SZUTAN 2 RESUMO -Racional -A recidiva do consumo do álcool após transplante representa grande preocupação nos centros transplantadores e é objeto de debate e controvérsia. Objetivo -Avaliar a recidiva da ingesta alcoólica e eventuais fatores a ela relacionados, em pacientes cirróticos, referidos para transplante hepático. Métodos -Estudo retrospectivo de julho de 1995 a setembro de 2005 incluindo 90 pacientes adultos com cirrose hepática, listados para transplante. Os critérios de exclusão eram: ausência de 6 meses de abstinência, não liberação da equipe de psicologia. O diagnóstico da recidiva (ingesta de qualquer quantidade de bebida alcoólica) era feito com base nas informações contidas nos prontuários e fornecidas por contato telefônico. Resultados -A recidiva encontrada foi de 18,9%, que correspondeu a 14,6% do número total de homens e 62,5% do número total das mulheres. A raça, média das idades, classificação de disfunção hepática, tempo de etilismo, quantidade da ingesta alcoólica e realização ou não de transplante, não mostraram correlação significativa com a recidiva da ingesta alcoólica. A comparação tempo de abstinência e recidiva guardou relação inversamente proporcional. Conclusão -A recidiva da ingesta alcoólica é baixa. Sexo feminino e tempo de abstinência inferior a 1 ano têm influência sobre a recidiva da ingesta alcoólica. DESCRITORES -Cirrose hepática alcoólica. Transplante de fígado. Consumo de bebidas alcoólicas. Recidiva.
INTRODUÇÃOA doença hepática é uma importante complicação provocada pelo álcool (21) . A expressão histológica reflete a instalação de lesões agudas, como a esteatose e a hepatite alcoólica, ou crônicas, como a hepatite crônica ativa, esclerose da veia centrolobular, cirrose e carcinoma hepatocelular (27) . A cirrose é uma significante causa de morbidade e mortalidade no mundo ocidental (11,24,34) . A abstinência tem importante papel em todas as formas de doença hepática alcoólica (34) , porém, quando a falência hepática se instala, o transplante de fígado é aceito como terapia mais eficaz (2,3,13,31,33) . Entretanto, até 1985, pacientes com doença hepática avançada, cuja causa era o álcool, raramente eram beneficiados pelo recurso terapêutico do transplante hepático. O pessimismo em relação a este procedimento baseava-se na crença de que os resultados do transplante eram inferiores aos obtidos em outras formas de doenças hepáticas, aliado ao temor da recidiva do consumo alcoólico após o transplante, resultando em dano sobre o enxerto (12) . Alguns autores acreditavam que as limitações do transplante, nesse tipo de paciente, ocorriam não só pela presença da doença hepática, mas também pelo comprometimento cerebral, miocardiopatia, deficiências vitamínicas múltiplas e anormalidades da musculatura. O alto potencial de complicações, muitas vezes pela não aderência ao uso das medicações imunossupressoras, associava-se a esses motivos (35) . Muitos centros relutavam em aceitar a idéia de transplantar fígado em pacientes alcoólatras, considerando todos os fatores a...