ResumoDisfunções na resposta ao estresse podem exercer um importante papel em alguns transtornos mentais. Uma gama cada vez maior de estudos demonstra que existem diferenças entre os sexos na prevalência de transtornos relacionados ao estresse e que mulheres com transtornos por uso de álcool têm diferentes desfechos negativos no funcionamento cerebral e em mecanismos de neuroadaptação quando comparadas aos homens. O consumo de álcool tem sido associado a alterações sutis e em longo prazo no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que afetam a resposta adaptativa nos circuitos de neurorregulação do estresse. Pesquisas futuras nesse campo podem impactar positivamente o desenvolvimento de estratégias terapêuticas que levem em consideração abordagens gênero-específicas.Palavras-chave: Álcool, mulheres, resposta ao estresse, diferenças entre os sexos.
AbstractDysfunctional stress response can play a key role in some mental disorders. An increasing number of studies have demonstrated sex differences in the prevalence of stress-related disorders. In particular, women with alcohol use disorders (AUDs) present different negative outcomes whe compared to men in terms of brain function e neuroadaptative mechanisms. Alcohol consumption has been associated with subtle, long-term hypothalamic-hypophysis-adrenal (HPA) axis alterations, affecting the adaptive response of stress neuroregulatory circuits. Future research in this field may positively influence the development of treatment strategies that take gender-specific approaches into consideration.Keywords: Alcohol, women, stress response, sex differences.Disfunções na resposta ao estresse podem exercer um importante papel em alguns transtornos mentais 1 . Embora no Brasil e no mundo homens bebam mais que as mulheres, até há pouco mais de uma década, praticamente não havia dados acerca do consumo de álcool entre as mulheres, exceto os provenientes de estudos epidemiológicos 2-4 . Programas de apoio e assistência a usuários de álcool pouco levam em consideração particularidades relativas ao gênero. Muitas mulheres abandonam o tratamento, mesmo em centros especializados, por não se sentir à vontade em um ambiente predominantemente masculino e praticamente com inexistência de programas que deem suporte a mulheres com problemas transtornos relacionados ao uso de álcool 5,6 . Atualmente, as mulheres bebem em quantidade e frequência muito parecidas às da população masculina, principalmente em amostras de mulheres mais jovens 7,8 . A literatura sugere diferenças bastante distintas entre os sexos. Alguns transtornos mentais são mais prevalentes no sexo feminino, entre eles os transtornos depressivos, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de estresse pós-traumático 9 . Em todos esses transtornos, o estresse exerce um papel importante na neurobiologia,