O Brasil enfrenta uma grave crise ambiental que está colocando em risco toda a biodiversidade e é o principal centro de riqueza do gênero Lippia, compreendendo um alto número de endemismos, espécies raras e ameaçadas. Lippia destaca-se pela sua variedade química com grande potencial farmacológico, compreendendo 140 espécies. Está representado no Brasil por 87 espécies, sendo 63 endêmicas, caracterizadas por uma distribuição majoritariamente restrita ou microendêmica, com maior riqueza e endemicidade no Cerrado e campos rupestres da Cadeia do Espinhaço, especialmente na Serra do Espinhaço Meridional situada em Minas Gerais, estado responsável pelo maior número de espécies ameaçadas. Problemas taxonômicos envolvendo a relação muito próxima entre Lippia e Lantana refletem em análises não confiáveis e falsas conclusões sobre a riqueza, distribuição e risco de extinção com graves consequências para a conservação das espécies. A ausência de um estudo amplo para o gênero no Brasil, representa um agravante que impede a real dimensão do seu estado de conservação. Como parte dos estudos para a Flora do Brasil 2020, este trabalho buscou analisar os materiais de Lippia e Lantana disponíveis em coleções botânicas virtuais (Reflora e speciesLink) a fim de corrigir problemas de identificação para a formação de um banco de dados confiável, base para atualização da distribuição, análises biogeográficas (Análise de Parcimônia de Endemismo e de Endemicidade) e definição do status de conservação das espécies endêmicas do Brasil. Foram analisados 17.821 espécimes, 11.040 do gênero Lippia e 6.781 de Lantana, sendo que 3.182 exsicatas tiveram suas identificações atualizadas. Foram corrigidos 194 registros de ocorrência para os estados, domínios fitogeográficos e fitofisionomias, sendo que 29 táxons tiveram sua distribuição ampliada, enquanto nove tiveram sua distribuição recircunscrita. A avaliação do status de conservação das espécies mostrou que cerca de 97% dos táxons endêmicos do Brasil foram incluídos em alguma categoria de ameaça (sete como “Criticamente em Perigo”, 20 “Em Perigo” e 36 “Vulnerável”), mesmo aquelas inseridas dentro de UCs, principalmente em função de atividades agrícolas, desmatamento e incêndios, revelando que quase metade das espécies do gênero encontra-se ameaçada. Entre os domínios, o Cerrado detém o maior número de espécies incluídas em categorias de ameaça (47), sendo um dos mais impactados pelo desmatamento que vem devastando sua cobertura vegetal nativa. São necessárias com urgência, políticas de conservação direcionadas, especialmente para o Cerrado e campos rupestres, evitando que várias espécies possam ser extintas a nível global.