O artigo aborda as complexidades, em interação, da produção cultural negra e das bordas, compreendendo as tramas presentes na produção da Trupe Liuds através da pesquisa bibliográfica e entrevista com a diretora do grupo. Este teatro circense é composto por palhaços negros, da periferia do Perus na cidade de São Paulo, que objetivam levar cultura e arte para crianças e jovens. O objeto, enquanto produção cultural negra e das bordas, também é contextualizado na cultura popular mestiça em constante ebulição no Brasil, já que, desde a diáspora, os povos da África conversam e conflagram com todos os conjuntos móveis assimétricos correntes no país: subúrbios, classes baixas e médias, índios quase-urbanos, urbanos quase-índios, migrantes e imigrantes de toda parte etc. Além da atenção à riqueza de tal condição, também perpassamos pelos impactos sociais das criações da Trupe Liuds, uma vez que também tratam de problemáticas sociais, raciais, de gênero etc. e que podem facilitar para o rompimento do pensamento autoritário. Todavia, observamos as saídas possíveis da lógica binária dominante; a produção cultural da qual tratamos compõem seu embate pela alegria, pelas alianças, pela graça, pelo riso, pela cor, pela sonoridade e pelo fluxo dos diversos corpos que são colocados em diálogo com a paisagem cultural, nas suas relações entre natureza e cultura. Assim, enfrentam-se aqui os temas sociais a partir da capacidade dos desvios criativos e das derivações de uma produção cultural lúdica, rítmica e alegre.