A proclamação da república brasileira marcou uma série de intervenções governamentais visando à ultrapassagem dos resquícios do atraso e do consequente constrangimento por ser a última nação a abolir a escravatura e a abandonar o regime monárquico na América Latina. Tais intervenções se constituíram através de estratégias empreendidas como efeito de uma nova postura política, na qual se deixou de governar o país como uma contingência ocasional para se perseguir um projeto de nação e de povo. Nessa concepção de política, a saúde, o poder disciplinar e a pedagogia foram as frentes de atuação em favor das quais a psicanálise foi convocada por parte da classe médica psiquiátrica como instrumento teórico e técnico cientificamente legitimado. Mas, haveria na obra freudiana uma noção de política, e, em caso de resposta afirmativa, teria ela compatibilidade com a política na qual tal projeto se sustentou? O presente estudo é o resultado de um percurso na obra freudiana com o interesse de articular e problematizar tais questões.