Neste artigo, procuramos responder à questão levantada por Linda Nochlin “Why have there been no greatest women artists?”, aditando a essa questão uma outra: Por que razão as trajetórias femininas nas artes – e particularmente na música - são esquecidas e/ou invisibilizadas? Ao estirar a questão para o mundo da música, procuraremos compreender o que está na base desse esquecimento e/ou invisibilidade e, sequentemente, da secundarização de mulheres/bandas femininas. Primeiro, analisaremos a própria invisibilidade que afetou, durante décadas, o campo dos youth studies, em que as mulheres não apareciam ou apareciam apenas como namoradas, companheiras, groupies, uma realidade que apenas começou a mudar em meados da década de 1980. Em seguida, faremos idêntico exercício na realidade portuguesa, especialmente no pós-25 de Abril de 1974 no tocante à participação das mulheres como criadoras nos mundos das artes, com especial ênfase no indie rock e no punk. E, por fim, centramos a nossa análise na compreensão do caso paradigmático da música e da ilustradora Ana da Silva e da sua banda The Raincoats - uma banda que atualmente é considerada seminal no riot grrrl e pós-punk, mas que teve de enfrentar imensas desvalorizações e/ou omissões, o que faz com que, ainda hoje, seja tida como a next big thing pelos média da especialidade e praticamente desconhecida pela generalidade da população.