ResumoO monitoramento dos ambientes marinhos pode ser feito avaliando a presença de poluentes em organismos que são capazes de acumular estas substâncias. Desta forma, este estudo avaliou a presença de hidrocarbonetos petrogênicos na alga parda Sargassum furcatum e em anfípodes ampitoídeos associados provenientes de costões rochosos do Canal de São Sebastião, o qual está sujeito à poluição por petróleo, devido às operações do Duto e Terminais Centro Sul (DTCS) e por efluentes domésticos. Identificou-se as espécies de ampitoídeos que ocorreram associadas ao S. furcatum estudando também a variação espacial e temporal da composição desta comunidade.A relação entre os hidrocarbonetos presentes em S. furcatum, a densidade e a estrutura populacional de Cymadusa filosa, espécie de ampitoídeo mais representativa da região, também foi investigada. Adicionalmente foi realizado o estudo do comportamento reprodutivo de C. filosa e avaliado o seu uso como bioindicador de qualidade da água, por meio de teste de toxidade aguda de curta duração. O material analisado foi proveniente de 7 coletas realizadas entre março de 2007 a novembro de 2008 em 7 costões rochosos. Foram quantificados os hidrocarbonetos alifáticos e policíclicos aromáticos derivados de petróleo tanto na alga como nos anfípodes, que compostos variaram em termos de concentração entre os meses amostrados. A alga possivelmente refletiu as concentrações de hidrocarbonetos presentes na água enquanto que os anfípodes podem ter assimilado via contato direto ou via alimentação. Foram identificadas seis espécies de anfípodes da Família Ampithoidae: Ampithoe sp., A. divisura, A. marcuzzi, A. ramondi, C. filosa e Sunampithoe pelagica que apresentaram diferenças significativas em termos de ocorrência, densidades e variação temporal. A população de C. filosa, de modo geral, foi dominada por jovens, possivelmente devido a elevada fecundidade das fêmeas. Ocorreu também x desvio da razão sexual a favor das fêmeas, relacionado com o comportamento diferencial do macho ou devido a sua maior sensibilidade aos hidrocarbonetos presentes na alga. Tanto hidrocarbonetos alifáticos como policíclicos aromáticos influenciaram a densidade e estrutura de tamanho dos diferentes estádios de desenvolvimento de C. filosa. Foram observadas interações agonísticas entre machos e fêmeas de C.filosa, formação de tubos conjugais e a alimentação de filhotes ainda no marsúpio pela fêmea, caracterizando o cuidado parental desta espécie. Verificou-se ainda que o período de incubação dos ovos foi curto e a maturidade sexual ocorreu entre seis a sete semanas. Os resultados de toxidade aguda sugerem que C.filosa tem um potencial para uso em experimentos de ecotoxicologia marinha devido a elevada sensibilidade ao cobre e ao naftaleno, contudo estudos adicionais com outros xenobióticos são necessários para comprovação destes resultados e para validar o uso desta espécie no monitoramento dos ambientes marinhos.