Ensaio recebido em 31 de março de 2017, versão final aceita em 4 de julho de 2017.
RESUMO:A agroecologia se sobressai entre as alternativas para superar as crises atuais, consequentes da globalização, por sua potencialidade e abrangência para agregar propostas ecológicas direcionadas a algumas das dimensões do problema, sendo por isso alçada à condição de paradigma em construção. As questões epistemológicas atreladas a esse paradigma estão direcionadas à compreensão da crise socioambiental, que é provavelmente central entre os desafios enfrentados pelas sociedades contemporâneas. Dada a dimensão dessa crise, há várias propostas teóricas e analíticas que se empenham em compreender as raízes e as circunstâncias históricas da situação atual. Destacamos aqui uma dessas propostas, a teoria mimética, que analisa o papel antropológico do sagrado na delimitação do acesso aos bens e na prevenção da violência social recorrendo, por exemplo, ao sacrifício. Essa teoria permite também compreender os efeitos da dessacralização como fator do consumo ilimitado na modernidade ao liberar os desejos. Assim, a dessacralização seria causadora de uma crise global das figuras tradicionais, dos modelos cosmogônicos e da desritualização da relação homem-naturezaagricultura, levando à integração desta última (atividade outrora altamente ritualizada) ao mercado global. Na tradição intelectual moderna, a húbris (desmedida) só pode ser contida na base de uma formulação consciente e racional dos limites e de uma livre escolha de submissão a estes (autonomia). Em caso de insucesso do projeto autônomo, restaria a anomia? Nossa hipótese é a de que a agroecologia, devido a sua consistência antropológica pertinente, representa uma dessas escolhas conscientes. A inovação deste artigo reside na ponte estabelecida entre a teoria mimética e a agroecologia. Enfim, concluímos o estudo com uma discussão sobre as perspectivas adotadas e seus limites.