Introdução: A hanseníase, doença causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, é uma das principais causas de neuropatia periférica em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, afetando as funções nervosas sensoriais, motoras e autonômicas. Mais de 81% dos novos casos são notificados em três países (Índia, Brasil, Indonésia) e, no mundo, mais de três milhões de pessoas vivem com deficiência devido à doença. Objetivo: Definir a prevalência da neuropatia hansênica, a sua associação com variáveis clínico-epidemiológicas e analisar o perfil dos pacientes com hanseníase atendidos em um serviço de referência. Método: Trata-se de estudo transversal de único centro, realizado em hospital filantrópico referência em Dermatologia no estado do Espírito Santo. Foram revisados prontuários de pacientes com diagnóstico de hanseníase que realizaram tratamento quimioterápico entre o período de agosto de 2020 a agosto de 2022 no ambulatório de Dermatologia. A amostra inicial foi de 117 pacientes, sendo selecionados 38 pacientes após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Resultados: Comprometimento funcional foi observado em 65,8% dos pacientes. Cerca de 94,7% apresentaram alterações sensitivas, enquanto que 81,6% apresentaram alterações motoras. A prevalência da neuropatia silenciosa foi de 10,5%, enquanto que da neuropatia crônica foi 57,9%. Em torno de 76,3% dos pacientes apresentavam grau de incapacidade 1 ou 2 durante a consulta admissional no ambulatório. Foi observada associação entre ausência de reação hansênica e neuropatia silenciosa (p < 0,05). Não foram evidenciadas associações entre comprometimento funcional e sexo, faixa etária, isoforma, baciloscopia, dor neuropática e reações da doença. Conclusão: A neuropatia da hanseníase é uma das principais causas de incapacidade no Brasil e no mundo, podendo acometer todas as faixas etárias e exercendo grande impacto socioeconômico no sistema de saúde. O foco do manejo deve se basear na avaliação periódica da funcionalidade neurológica para detectar alterações insidiosas e instituir terapia precoce. São necessários estudos para testar métodos simples e eficazes no diagnóstico da neuropatia da hanseníase, objetivando a prevenção das incapacidades.