Apraxia de fala e atraso de linguagem: a complexidade do diagnóstico e tratamento em quadros sintomáticos de crianças

Abstract

RESUMO Define-se apraxia de fala como a inabilidade de sequenciar os movimentos necessários a uma produção articulatória acurada, cuja explicação, tradicionalmente, é remetida a um déficit na programação motora da fala. Não é infrequente que clínicos de linguagem se defrontem com casos clínicos em que a inconsistência da fala coloca questões quanto ao diagnóstico diferencial entre apraxia e quadros considerados de linguagem. O reflexo desse impasse é observado na dificuldade em estabelecer uma direção de tratamento adequada ao problema apresentado. Neste trabalho, apresentamos o relato de um caso clínico em que tanto o diagnóstico quanto o tratamento mobilizam discussões a respeito da condição apráxica de fala na infância. Nas apraxias, partimos do reconhecimento de que o corpo colocado em evidência é aquele que ultrapassa sua configuração puramente orgânica. Consequências clínicas são retiradas da premissa de que o corpo humano é aquele cuja orelha pode escutar e a boca, falar, ou seja, é estrutura orgânica posta a funcionar de maneira especial pela incidência da música da linguagem a invocar o corpo falante.

Validação de conteúdo e de construto de sinais enunciativos de aquisição da linguagem no segundo ano de vida

“…A música foi especialmente importante no relato de caso clínico de tratamento de apraxia de fala em criança de 5 anos. Ela permitiu uma abordagem significativa na articulação entre ouvir e escutar e falar e dizer (22) . Cabe destacar, no entanto, que risco não é diagnóstico e que ele deve ser tomado de um modo a oportunizar estratégias promocionais da aquisição sem criar fantasmas no imaginário parental.…”

Corpo e linguagem: repercussões em um caso de disfagia

“…A incidência sobre o funcionamento corporal foi costurada pela via do prazer alimentar e da comensalidade, a partir da abertura da escuta e do diálogo que envolveu ações clínicas comprometidas com a inclusão do sujeito e as vicissitudes de seu processo de adoecimento. Isso só foi possível a partir do reconhecimento de que a incidência da linguagem sobre a matéria orgânica promove o deslocamento da posição de não-fala para um texto "corporal" capaz de ser interpretado (4) . Mais do que isso, demonstra que mesmo quando o corpo é atingido, o sujeito pode encontrar recursos para responder às restrições colocadas pelos prejuízos impostos ao substrato orgânico.…”

“…É sob esse viés que o corpo comparece como palco da beleza, da estética e da arte de seu tempo, sendo um corpo histórico, isto é, afetado por condições materiais e culturais sempre heterogêneas. Assim, embora se possa partir de sua composição orgânica, não se pode negar que o corpo está enlaçado ao sujeito, é atravessado pela linguagem e afetado pela palavra, como nos mostra a Psicanálise (3,4) .…”

Fonoaudiologia, mãe, criança: encontros e desencontros na cena terapêutica de fala e linguagem

“…Na prática clínica aqui representada é privilegiada como uma questão que inclui fala, língua e discurso presentes nos diferentes usos de linguagem (Pragmática). Desse ponto de vista a AFI não se limita a uma questão especificamente motora de produção de fala 1 porque implica o processo de subjetivação do sujeito na/pela linguagem 2 .…”

“…Assim, por um lado a orientação familiar não se limita aos treinos fonoarticulatórios, mas torna-se um canal de mediação entre o que a fonoaudióloga mostra para a família sobre a criança em meio às atividades pragmáticas de linguagem/fala na língua (brincando, cantando, representando, desenhando 2 , entre outros). Por outro lado, a família aproxima a fonoaudióloga dos acontecimentos cotidianos que envolvem a criança fora da cena terapêutica.…”