Objetiva-se, neste ensaio, refletir, teórica e analiticamente, sobre alguns pronunciamentos do presidente da República, Jair Bolsonaro, em cotejo com três charges, entendidas como enunciados-respostas, como explicitação de uma necropolítica no período de pandemia causada pela COVID-19, tendo em vista a relevância social das ações de políticas públicas e sanitárias decorrentes de tais atos de linguagem. A fundamentação teórica se calca na noção de necropoder, de Mbembe; e de enunciado, ato, ideologia e responsividade, de Bakhtin e o Círculo. A metodologia interpretativa dialético-dialógica, marcada pelo cotejo, compõe a pesquisa qualitativa empreendida. Os critérios de seleção do corpus foram: temático, temporal, quantitativo e genérico. A justificativa desta reflexão se pauta na relevância social da temática, que leva a pensar as práticas sociopolíticas brasileiras, marcadas na e pela linguagem. Os resultados demonstram o quanto os atos de dizer semiotizam atos de fazer e o quanto o menosprezo e a falta de política pública inclusiva do chefe de Estado reverberam a voz de determinado grupo e ratificam, com sua necropolítica eugênica, a desigualdade social, em especial, em um momento extremo, como o vivido.