Introdução: Os doentes asmáticos têm por vezes outras patologias concomitantes para as quais é necessário o uso de beta-bloqueantes. Tendo em conta que a terapêutica com estes fármacos é transversal a diversas doenças e sendo fármacos bastante usados na prática clínica, particularmente nas consultas de cuidados de saúde primários, torna-se importante esclarecer possíveis contraindicações ao seu uso nos indivíduos com asma. Objetivo: Avaliar os efeitos que a administração de beta-bloqueantes cardioseletivos e não seletivos podem ter em doentes asmáticos no que diz respeito a: alterações nas provas de função respiratória; exacerbações agudas da doença e sua sintomatologia associada; frequência de uso de medicação de alívio; necessidade de recorrer a um serviço de urgência e frequência de internamentos relacionados com efeitos adversos da toma do fármaco. Métodos: Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, tendo sido utilizada a base de dados eletrónica PubMed. A expressão de busca utilizada foi: asthma AND beta-blockers. Resultados: A pesquisa inicial levou à obtenção de uma amostra de 151 artigos, dos quais 49 foram selecionados pela leitura do título e resumo. Destes, depois da leitura integral e da aplicação dos critérios de inclusão, foram escolhidos 30 artigos. O atenolol e o propranolol foram os beta-bloqueantes mais estudados. Dois ensaios clínicos randomizados e um coorte abordaram beta-bloqueantes oculares tópicos; 22 ensaios clínicos randomizados e cinco coortes estudaram beta-bloqueantes orais ou IV. Conclusões: Os doentes com asma ligeira a moderada poderão, se indicado, pela existência de outras patologias, ser medicados com beta-bloqueante, sempre com vigilância apertada do doente, especialmente nas fases iniciais desta terapêutica. Não se verificou que os beta-bloqueantes cardioseletivos sejam claramente mais seguros que os não seletivos, pelo que terão de ter os mesmos cuidados na sua utilização em asmáticos. Os beta-bloqueantes tópicos oculares podem ter efeitos prejudiciais nos asmáticos, reduzindo o FEV1 e causando exacerbações de asma. Ainda não existem dados suficientes para recomendar o uso de beta-bloqueantes para o tratamento da asma.