O endotélio cumpre sua função de manutenção do tônus vascular pela liberação de substâncias vasodilatadoras (a principal delas, o óxido nítrico -NO, gerado a partir do metabolismo da L-arginina pela NO sintase endotelial, eNOS) e vasoconstritoras, que, quando liberadas em desequilíbrio, geram disfunção endotelial. A disfunção endotelial está presente em estados patológicos, tais como no diabetes melito (DM), na síndrome metabólica, na hipertensão arterial, na dislipidemia etc., contribuindo para o desenvolvimento da aterosclerose característica dessas doenças por promover inflamação, trombose, rigidez arterial e redução da regulação do tônus e fluxo arteriais (1). Sua presença é preditora de eventos cardiovasculares (2), surge nas fases iniciais da doença aterosclerótica e pode ser revertida por meio de medidas terapêuticas que sabidamente são capazes de reduzir a evolução dessa doença, tais como exercício físico, melhora da hiperglicemia do DM (3), cessação do fumo (4), uso de estatinas, entre outras. São mecanismos causais da disfunção endotelial nos estados de resistência à insulina e DM: alteração de vias de sinalização que levam à inativação da eNOS, ativação do endotélio por moléculas pró-inflamatórias, disfunção mitocondrial e aumento do estresse oxidativo na vasculatura (1), os quais podem ser particularmente importantes de acordo com fatores genéticos predisponentes (5). O estresse oxidativo é induzido pelas espécies reativas de oxigênio (EROs) e o ânion superóxido reage com o NO para formar peroxinitrito, substância altamente reativa. Dados do nosso grupo em pacientes com insuficiência renal crônica mostraram correlação inversa entre a capacidade antioxidante total e a função endotelial avaliada no leito venoso (6), o que reforça outros dados da literatura de relação causal entre disfunção endotelial e estresse oxidativo.A exposição da vasculatura à hiperglicemia e o aumento de ácidos graxos livres característicos do DM e estados de resistência insulínica induzem à produção de superó-xido e reduzem a biodisponibilidade de NO, o que pode ser restaurado por tratamentos antioxidantes em algumas situações, e não em outras, tal como visto em estudo publicado por Capellini e cols. neste número dos ABE&M (7). É interessante observar que, apesar de numerosos dados experimentais mostrando que o estresse oxidativo contribui para a disfunção endotelial (4), os ensaios clínicos realizados em humanos não mostraram benefício de tratamentos com antioxidantes sobre desfechos cardiovasculares (8). Naturalmente que a implementação de um tratamento inovador requer que, além de sua comprovação em modelos animais, este seja reprodutível em seres humanos e testado em grandes ensaios clínicos randomizados, que permitam avaliar