A investigação sobre a delinquência juvenil ao nível internacional caracteriza-se maioritariamente por estudos quantitativos, procurando medir o fenómeno ao nível da prevalência, identificar preditores e fatores de risco. Os estudos qualitativos que procurem compreender as experiências de vida dos jovens delinquentes são em menor número e, especificamente em Portugal, são ainda mais escassos. O presente estudo procura colmatar esta lacuna, procurando compreender as trajetórias de vida e a significação das experiências dos jovens delinquentes. Assim, analisam-se as histórias de vida de 9 jovens delinquentes que praticaram crimes e que estão recluídos num centro educativo. O estudo procura identificar as áreas e experiências de vida mais relevantes dos jovens e de que forma as significam e vivenciam. Utilizou-se a análise temática para a análise dos dados. Da análise resultou a identificação de cinco temas centrais: família, grupo de pares, comportamentos delinquentes, percurso escolar e institucionalização/reclusão. Os resultados indicam que os comportamentos antissociais/delinquentes são, de facto, um dos temas predominantes no discurso, traduzindo-se na maior parte dos casos em experiências partilhadas com os pares, nomeadamente o consumo de substâncias, a prática de crimes contra a propriedade e as ofensas à integridade física. Os remorsos e os sentimentos de culpa surgem associados à descrição dos comportamentos criminais. Conclui-se que, ao nível da prevenção, a componente relacional deve ser alvo de atenção, nomeadamente as relações familiares e a relação com os pares. A componente escolar assume também importância, verificando-se a escassez de experiências positivas e de sucesso escolar.