Resumo: Neste artigo, tomamos como ponto de partida um estudo de caso etnoecológico, desenvolvido entre quilombolas, noVale do Ribeira, São Paulo, para lançar algumas reflexões sobre como articular as proposições de Tim Ingold à pesquisa etnocientífica. A proposta teórica de Ingold conecta práxis, percepção e conhecimento do ambiente. Aqui, veremos que a proposta ingoldiana pode ser tomada como: (1) modelo interpretativo para padrões observados em repertórios etnobiológicos/etnoecológicos; (2) modelo hipotético passível de teste empírico; e (3) referencial teórico para análises dirigidas à gênese do conhecimento na práxis. Este último caso é particularmente significativo, pois nele o conhecimento é concebido fenomenologicamente, o que implica um registro qualitativo de sua manifestação, sendo mediado pelo método etnográfico. Por fim, ressaltamos o caráter incipiente do diálogo entre Ingold e o campo etnocientífico, que representa um desafio ainda maior no ambiente acadêmico brasileiro, onde as etnociências figuram mais como um ramo da biologia do que da antropologia, diferente de suas raízes históricas na Europa e nos EUA.
Palavras-chave:Etnociências. Tim Ingold. Práxis. Abordagem etnográfica. Etnoecologia. Quilombolas.
Abstract:In this article, we present some analytical reflections involving the incorporation of Tim Ingold's theoretical background in ethnosciences. To this end, we make use of an ethnoecological study that we have developed among quilombolas (Maroons) from Southeast Brazil. Ingold states in his approach that praxis, perception and human environmental knowledge cannot be treated as disconnected concepts. Here, we discuss three ways of incorporating the Ingoldian approach in ethnoscience:(1) as an explanatory model of the general patterns present in local repertories of knowledge; (2) as a hypothesis to be tested empirically; and (3) as a theoretical background to analyze the process of knowledge constitution in practice. In this respect, knowledge is conceptualized phenomenologically, which implies a qualitative-ethnographic record of its manifestation in the environmental experience of individuals. To conclude, we highlight the still incipient problematization of Ingoldian insights in ethnoscientific research, which can be difficult in Brazil, where ethnoscience is mainly a branch of biology, rather than of anthropology, as in Europe and the USA.