Resumo: Desde a descoberta do manuscrito 2071 da Biblioteca Real belga, na primeira metade do século XIX, contendo versões completas das duas mais famosas canções atribuídas ao Arquipoeta de Colônia, Salve mundi domine, Caesar noster ave! e Estuans intrinsecus, ira vehementi, a primeira canção suscitou consideráveis debates acerca de seu cunho laudatório e assumiu conclusões pesadamente nacionalistas com historiadores alemães das décadas de 1930 e 1940. Suas análises acerca do assim chamado Kaiserhymnus não sofreram contestações de monta até fins do século XX. No entanto, salta-nos aos olhos a seguinte questão: como analisar crítica e contextualizadamente uma canção considerada como um encômio imperial, na classe da Gesta Friderici de Otto de Freising e Rahewin entre outras obras, mas composta por um dos grandes (se não o maior) satiristas do século XII? Uma obra que marcadamente, a se crer nos analistas tradicionais, destoa do cânone do próprio autor? Para iniciarmos a resposta a este questionamento, procedemos a um estudo acerca das relações entre as principais personagens envolvidas no texto: o Arquipoeta e o Arcebispo Rainald de Dassel, seu patrono como poeta e seu empregador como notário da Chancelaria Imperial, um relacionamento no qual, como apontou Peter Godman em suas obras, desenvolveram intensa relação de cumplicidade intelectual. Ao inspirarmo-nos em questionamentos advindos da Análise Crítica do Discurso e do estudo da Cultura Política, nos dedicamos neste artigo a uma tradução do Kaiserhymnus para a Língua Portuguesa e à sua análise contextualizada estrofe por estrofe, o que nos permitiu alcançar conclusões muito divergentes das já consolidadas acerca da canção.
* Professor adjunto em