Brasil da financeirização: do consumo familiar à cooptação da assistência social

Abstract

Resumo Enquanto face mais recente do modo de acumulação capitalista, a financeirização reverbera, por um de seus tentáculos, na necessidade de acesso ao mercado bancário-financeiro e de bens pelas famílias de baixa renda. Isso se dá, primordialmente, para que possam assegurar direitos esvaziados pelo Estado, gerando explosões de consumo e endividamento alimentadoras do circuito neoliberal – caso do Brasil, sobretudo desde os anos 1990. Ao lado, o crescimento de mecanismos socioassistenciais, cujo pano de fundo é a promoção do bem-estar e das cidadanias, deixa de servir unicamente às suas pretensões originárias para também sustentar, transversalmente, o capital financeirizado. Em tal cenário, este trabalho objetiva verificar as dinâmicas de gasto e consumo familiares vigentes num Brasil marcado pelas desigualdades e por políticas públicas socioassistenciais na era financeirizada. Perquire a inserção na ciranda bancário-financeira das populações pauperizadas e o uso do fundo público para a remuneração de bancos. Metodologicamente, parte de pesquisa bibliográfica de teóricos clássicos e contemporâneos críticos da financeirização, aliada a dados secundários de consumo e gastos das famílias brasileiras, destacadamente aquelas rastreadas e atendidas por políticas assistenciais, assim como da execução orçamentária nacional. A análise aponta para a cooptação do Estado pela financeirização e a quebra dos objetivos originários das ações assistenciais.

Providing Consumer Credit to Low-Income Populations in Brazil—The Case of Complexo da Penha

“…In Brazil, the existing financialization literature has identified that the type of FI promoted from the early 2000's has been largely based on the supply of consumer credit to low-income households. These studies trace the characteristics of this supply, along with the macro-economic conditions that gave rise to the expansionary credit cycle (Santanna 2020;Lavinas et al 2017;Neto et al 2021;Gentil and Bruno 2021). The high cost of this credit, when combined with structurally low and uncertain incomes emerging from labor markets characterized by high levels of informality, has created unsustainable debt levels and high default rates.…”