ResumoNeste artigo, argumento que o sentido atribuído à "reflexão", na área da formação de professores, se tem orientado mais para uma lógica de competências, com inspiração gerencialista e enfoque na empregabilidade individual, do que para as dimensões de análise social e política que podem contribuir para a justiça social e a democratização da sociedade. Nas instituições de ensino superior que formam professores, a prescrição parece predominar sobre a reflexão, desqualificando a conceção de professor como intelectual crítico transformador, cuja reflexividade, individual e coletiva, é indissociável das dimensões política e ética da profissão e da formação docentes. Palavras-chave: Formação de professores, lógica de competências, prática reflexiva, democratização, justiça social
AbstractIn this paper it is argued that the sense which has being attributed to "reflection" and reflective practice, in the area of teacher education, has been more orientated to a logic of competences, based on a managerial inspiration and focused on the individual employability, than for the dimensions of social and policy analysis which can be able to contribute to social justice and the democratization of society. In the higher education institutions of teacher training, prescriptions seem to overlap reflection, thus disqualifying the conception of intellectual, critical and transformative teachers, whose individual and collective reflexivity is inseparable from the political and ethical dimensions of the teaching profession and training. Keywords: Teacher training, logic of competences, reflective practice, democratization, social justice
IntroduçãoA escola e a formação de professores sempre alimentaram grandes debates e paixões, sobretudo em torno do princípio da igualdade de oportunidades, mas também em nome do progresso, do desenvolvimento, da justiça social, dominados por distintas ideologias e marcados por diversas conjunturas históricas, políticas, sociais e económicas. Canário (2000) salienta três períodos diferentes, aos quais correspondem diferentes conceções e expectativa em relação à escola: a escola das incertezas, a escola das promessas e a escola das incertezas. A escola das certezas correspondeu à escola da primeira metade do século XX, baseada num modelo elitista e não assumindo responsabilidades na produção das desigualdades sociais; a escola das promessas, associada à ideologia desenvolvimentista que se seguiu à segunda guerra mundial, que operou a passagem de uma escola elitista para uma escola de massas e gerou uma atitude de euforia e otimismo perante as promessas de desenvolvimento, igualdade de oportunidades e mobilidade social; e a escola das incertezas, que começou a manifestar-se a partir dos anos 1970 e se tornou mais claramente visível a partir dos anos 1980, face ao falhanço das promessas do período desenvolvimentista e ao surgimento simultâneo de fenómenos como o acréscimo de qualificações e o acréscimo de desigualdade; e o desemprego estrutural de massas e a crescente desvalorização dos diplomas. Esta...