O artigo buscou compreender o processo de transição do ambulante ao empreendedor na comida de rua, a partir de um estudo etnográfico desenvolvido junto aos trabalhadores deste comércio, na cidade de Santo Antônio de Jesus, Recôncavo da Bahia. A etnografia seguiu a linha analítico-interpretativa de Clifford Geertz. A etapa de campo durou sete meses, com uso das técnicas: observação sistemática e participante e entrevistas com ambulantes e informantes-chave. Outras fontes alternativas, como reportagens de sites e jornais locais compuseram o estudo. A análise fundamentou-se em teóricos como Ricardo Antunes, para discutir questões que acercam o trabalho informal, o vir-a-ser empreendedor e a precarização no trabalho ambulante. Verificou-se que a implementação do Programa SAJ Legal, intervenção política que visou reorganizar e reestruturar o comércio de rua na cidade, culminou na “recategorização” dos ambulantes à microempreendedores. Parte destes não reconheciam a “identidade” de MEI, forjada pelo poder público, significados revelados em micro ações, como táticas de resistência e verbalizações dissonantes, na prática do labor. O Programa revelou adotar estratégias baseadas em políticas neoliberais, ao assumir o discurso “empreendedor” para regulação, em detrimento de uma política de proteção social para esses sujeitos. Assim, a formalização do ambulante à MEI representou menos uma política resolutiva, do que repercutiu como parâmetro de higienização social e estratégia econômica. Essas manifestações denotaram que a corrosão dos direitos do trabalhador, encoberta sob o véu do discurso empresarial, atendem, prioritariamente, ao mercado financeiro e representam o contingenciamento de novas formas de exclusão e precarização dos vínculos de trabalho.