Caracterização hidroquímica de águas superficiais dos rios Guajiru e do Mudo, Bacia Hidrográfica do rio Doce, Nordeste do Brasil

Abstract

A Bacia Hidrográfica do rio Doce contém os tributários rio do Mudo e rio Guajiru. É uma das principais bacias do Litoral Oriental do Estado do Rio Grande do Norte, tendo em vista ser responsável pela formação da lagoa de Extremoz, a qual abastece parte da região metropolitana de Natal/RN. Vem sofrendo ao longo dos anos intensa pressão por parte da ocupação humana e industrialização. Parte da região das nascentes é composta por rochas do embasamento Pré- cambriano (e.g. granitos e ortognaisses), predominando no restante rochas sedimentares da Formação Barreiras e materiais Quaternários. Foram estabelecidos oito pontos de amostragens nas sub bacias dos rios Guajiru e do Mudo, onde foi coletada água, no período de julho a agosto de 2016, para classificação hidroquímica e correlação de suas características com os aspectos litológicos. O diagrama de Piper classificou as amostras predominantemente como cloretadas sódicas. Os diagramas de Stiff e Radiais mostram agrupamentos das amostras, tendo relacionamento genético com as regiões de nascente. A partir dos Sólidos Totais Dissolvidos - STDs as águas foram classificadas predominantemente como salgadas e salobras. As razões iônicas caracterizaram águas associadas a rochas cristalinas gnáissicas e graníticas. Os diagramas de Gibbs mostraram a influência do processo de evaporação/cristalização na química das águas. As águas estudadas (salgadas/salobras) nessa porção das nascentes demonstram ser quimicamente distintas das águas superficiais do médio e baixo curso da bacia hidrográfica, nos quais se têm águas doces/potáveis (usadas inclusive para consumo humano), devido a perenização dos rios/vales efluentes com águas doces do aquífero Barreiras.

Hidroquímica de águas superficiais e subterrâneas em Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte

“…Os valores elevados de STD podem ser explicados pela forte correlação entre CE e os elementos maiores, estabelecendo um contexto compatível com a salinização que ocorre em climas áridos e semiáridos (Qaisar et al, 2018;Damasceno et al, 2021). As correlações intermediárias do Mg 2+ com o Na + (r = 0,58) e o SO 4 2-(r = 0,53) e fraca em relação ao K + (r = 0,43) e HCO 3 -(r = 0,51), sugerem a possibilidade de mais de um mecanismo de concentração iônico, além da contribuição das chuvas pela consequente dissolução de sais concentrados durante o período seco (Fitzpatrick et al, 2000).…”

“…As deficiências das estruturas física e organizacional para o gerenciamento hídrico geralmente se somam aos condicionantes climatológicos e à interação água-rocha (Fitzpatrick et al, 2000;Teramoto et al, 2019;Karunanidhi et al, 2020). Esse contexto submete populações de grande parte do semiárido brasileiro a condições de vulnerabilidade hídrica, no qual, geralmente, o consumo de água em centros urbanos menos desenvolvidos não realiza análises hidroquímicas abrangentes, enquanto em comunidades rurais, a população recorre ao consumo de águas salobras destinadas anteriormente à dessedentação animal, como estratégia de convivência com a escassez hídrica (Lopes et al, 2020;Damasceno et al, 2021). Além de soluções locais, trabalhos de análise e interpretação de amostras de águas superficiais e subterrâneas, e as relações entre suas características hidroquímicas e o arcabouço geológico são utilizados como ferramenta de reconhecimento de processos de salinização derivados da interação água-rocha, o que permite o acesso de populações rurais a águas de melhor qualidade no semiárido do Nordeste brasileiro (Valcarcel Rojas et al, 2020).…”