O amplo território percorrido pelos rios platinos e seus tributários configurava, nos séculos XVI e XVII, um imenso triângulo entre as vilas de São Vicente, no litoral sudeste da América portuguesa; Buenos Aires, na foz do estuário; e Assunção, no interior do continente, às margens do rio Paraguai. Desde os primeiros mapas e relatos quinhentistas, esse espaço foi predominantemente descrito e mapeado como um emaranhado de rios, um espaço que variou de península à mesopotâmia de terras quase ausentes, figurando no mais das vezes como via de acesso – desconhecida, misteriosa e por vezes mítica – ao interior do continente. Durante grande parte do período colonial, a região foi também fronteira mais ou menos indefinida dos impérios ibéricos na América. A partir das discussões recentes da historiografia da cartografia, da análise concomitante de mapas espanhóis e portugueses e, em outra escala de observação, da documentação escrita produzida no período, o objetivo do artigo é entender a dinâmica das fronteiras naquele território. A hipótese levantada é de que a utilização dos rios, percorridos como caminho pelos diversos atores sociais, ou cartografados nos mapas imperiais, parece ser uma das chaves para o entendimento das fronteiras que, nesse caso, são de diferentes naturezas: fronteiras entre os impérios ibéricos bem como fronteiras entre o mundo europeu e indígena e entre o conhecido e o desconhecido. Palavras chave: história da cartografia; fronteira; Impérios ibéricas na América.