Introdução: Acidentes ofídicos são doenças negligenciadas e constituem uma parcela importante da morbidade de pessoas em idade produtiva que vivem em zonas rurais. A maior parte dos seus efeitos a curto prazo é amplamente conhecida, especialmente aqueles de natureza clínica; no entanto, ainda se observa lacuna importante do conhecimento das consequências a longo prazo de tais agravos, notadamente as de ordem psíquica. Este artigo relata um caso de adoecimento mental subsequente a um acidente crotálico e gera reflexões de âmbito cultural e fisiopatológico a respeito das sequelas de tais eventos. Apresentação do caso: Trata-se de adolescente residente no interior baiano que foi vítima de mordedura por cascavel e teve necessidade de hospitalização em unidade de terapia intensiva. Observou-se que, mesmo após melhora clínica, iniciou com sintomas psicóticos prodrômicos e progrediu para piora mental grave, que culminou em internação psiquiátrica e diagnóstico de esquizofrenia no decorrer dos meses seguintes. Conclusões: Nota-se, neste caso, correlação direta entre esses dois eventos; mas, em razão da escassez de trabalhos científicos que abordem tais questões, depreende-se que é preciso investigar e estudar com maior profundidade possíveis associações entre acidentes crotálicos e psicoses.