O psicodiagnóstico de Rorschach constitui até hoje o instrumento mais preciso e mais versátil para estudar a personalidade humana. Entretanto, como qualquer outro aparelho de precisão, os resultados que fornece variam em função da técnica de quem o aplica e da objetividade que empenha nesse labor.Técnica, no caso, subentende competência profissional e conhecimento não só da teoria da personalidade mas também da psicopatologia. Somente o psicólogo versado nesses dois campos poderá extrair do psicograma todo o cabedal de informações sobre a vida mental do examinando, de que a prova é capaz. Efetivamente, o que o protocolo de Rorschach põe em evidência são os dinamismos psíquicos, normais ou desviados, que o examinando utiliza em cada momento da pesquisa. Será necessário interpretá-los de per si e em conjunto para daí surgir a síntese que descreva as condiçõts peculiares ao probando: é fácil compreender que sem o recurso da psicologia e da psicopatologia tal reconstrução seria impossível ou, pelo menos, inexpressiva.Tornar objetiva a prova significa recorrer a normas estáveis e seguras para a classificação prévia dos dados a registrar, para a avaliação das diferentes variáveis que apareçam em cada protocolo e para reuni-las em um arcabouço impessoal. Significa utilização do critério estatístico, donde a previsão de um psicograma da população média, em função do qual se avalia o protocolo concreto em estudo. Significa, portanto, reduzir ao mínimo o coeficiente pessoal do examinador.Foi com semelhante critério, de pesquisa incessante e de aferição em termos de freqüência estatística, que Rorschach criou esse método inigualável.Comunicação ao 1.º Simpósio, Asociación Latinoamericana de Rorschach (Montevideo, 7-11-1967 Para confrontar o psicograma em estudo com a expectativa para a população média, há o recurso -fundamental e instituído pelo próprio Rorschach -de traduzir cada um dos elementos principais da resposta às manchas por um símbolo ou por urna abreviatura. Tais elementos são a modalidade segundo a qual a resposta abrange a prancha, o determinante psicológico, o conteúdo explícito ou conceito, e, em condições particulares, a freqüência deste conceito no protocolo do adulto médio. Vale dizer que cada resposta se reduz a uma unidade complexa de pelo menos três ou quatro abreviaturas. A maneira de se articularem, no conjunto do registro, esses componentes aferidos estatisticamente, varia de examinando a examinando: constitui o ponto central, na análise do psicograma. Porém essa análise não pode restringir-se à configuração do registro assim obtido: "No psicodiagnóstico o esforço interpretativo seria estéril se apenas se limitasse a descrever os caracteres está-ticos da personalidade em estudo. O fundamental aí consiste -como demonstrou o genial criador da prova -em estabelecer com quais disposições estruturais conta o examinando nas interações cotidianas, e de que maneira recorre ao cabedal subjetivo de que dispõe" 23 .Tratado com essa intenção o Rorschach revela numerosas peculiaridades do mundo subjetivo.Lembre...