O vírus Zika (VZ) já havia sido identificado e descrito pela literatura científica na primeira metade do século XX. Foi apenas quando sua transmissão produziu uma dramática repercussão reprodutiva, na forma da Síndrome Congênita do Vírus Zika (SCVZ), que o Zika foi se mostrando como uma tragédia humanitária de grande escala. Diante desse cenário, na Grande Região Metropolitana do Recife/PE, o epicentro do primeiro surto, orquestrou-se um intensivão científico. Pesquisadores, profissionais de saúde, projetos, redes e consórcios de instituições de pesquisa no país e do exterior se apressaram para conhecer melhor esse velho-novo vírus. Nossa equipe de pesquisa da área de Antropologia também esteve no Recife. O desenho metodológico previu, de 2016 a 2019, visitar semestralmente o mesmo conjunto de famílias. Nesse artigo, especificamente, discutirei a participação dessas famílias na pesquisa científica produzida no Recife. Um caso, de uma mãe e sua filha com a SCVZ, será apresentado, duas pesquisas das quais elas participaram serão descritas e serão analisados seus caminhos por tantos espaços de pesquisa do VZ. Embora a maioria das mães, as principais cuidadoras dessas crianças, buscassem serviços de saúde, justiça e educação, nem todas apresentavam a disposição dessa mãe em participar também de atividades científicas. Nos últimos anos, inclusive, a tônica da comunidade da SCVZ tem sido contrária, a sensação de exploração e não reciprocidade diante da produção científica do Zika.