Introdução
As tentativas de compreender a relação entre a depressão e as doenças não-psiquiátricas colocam em evidência todas as dificuldades e as controvérsias que persistem em relação ao humor depressivo, a validade do diagnóstico psiquiátrico e as implicações dos eventos vitais traumáticos para diagnóstico e tratamento dos transtornos psiquiátricos (Rodin et al., 1991).Doença clínica e depressão são experiências comuns na vida de muitas pessoas. Quando essas doenças coexistem, a depressão tanto pode ser uma complicação de uma doença clínica (ou de seu tratamento), quanto a sua causa, conseqüente a um ou mais fatores etiológicos comuns a ambas, ou, ainda, uma mera coincidência de ocorrência. Em geral é uma relação altamente complexa, algumas vezes mal interpretada e freqüentemente negligenciada.É importante despertar o interesse do médico clínico para o diagnóstico e o tratamento dos transtornos depressivos, porque sabemos que muitos não identificam, não tratam ou não encaminham pacientes clínicos com depressão para avaliação e tratamento psiquiátricos. No entanto é importante que, ao focalizar nossa atenção sobre depressão, não passemos a impressão de que o estado mental associado à doença clínica é necessariamente sombrio e depressivo. De fato, o que é mais espantoso no contexto de uma doença clínica é a grande capacidade do ser humano em se adaptar a adversidades de todos os tipos. O humor deprimido é uma resposta humana normal ao sentimento de dano, perda, incerteza e vulnerabilidade que pode
ResumoDiagnosticar depressão em um doente clínico é uma tarefa difícil por vários motivos. Muito embora tristeza e humor depressivo possam indicar síndrome depressiva subjacente, eles também podem fazer parte da adaptação normal a uma doença que ameace a vida. Os sintomas somáticos e vegetativos incluídos nos critérios diagnósticos das classificações atuais não são específicos e podem de fato ser atribuíveis à hospitalização, aos tratamentos ou à própria doença clínica. Tratar a depressão no paciente clínico é também difícil devido à preocupação com a interação de drogas, assim como questões de eficácia e segurança nesse grupo. Nesta conferência clínica os autores discutem questões como que diagnósticos podem ser feitos em pacientes clínicos com sintomas depressivos; prevalência de depressão em diferentes ambientes; mecanismos de co-morbidade (fatores fisiológicos e comportamentais) que relacionam a depressão às doenças clínicas e o manuseio da depressão nesse grupo.
AbstractDiagnosing depression in the medically ill is a difficult diagnostic task for several reasons. Although sadness and depressed mood may be indicative of an underlying depressive syndrome, they may also be part of normal adaptation to a life-threatening disease. The somatic and vegetative symptoms included in diagnostic criteria are not specific and may in fact be attributable to hospitalization, treatments or medical illness. Treating depression is also difficult, because of concerns on drug-drug interactions and efficacy and safety of antidepressa...