Conflito de interesse: nenhum Fonte de financiamento: nenhuma Trabalho realizado no Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFMG.
IntroduçãoA abordagem nutricional de pacientes cirúrgicos é aspecto fundamental no cuidado dos mesmos. Múltiplos estudos randomizados, meta-análises e revisões têm abordado o tema. No entanto, alguns aspectos ainda continuam a ser alvo de inúmeras controvérsias, especialmente no tocante ao período adequado de jejum pré-operatório e à liberação da dieta no pós-operatório. Esses aspectos envolvem alguns dos paradigmas existentes em Medicina, mais propriamente em Cirurgia, que geram, por sua vez, angústia e medo aos profissionais envolvidos no tratamento de pacientes operados.Operações eletivas são, em geral, realizadas após 10 a 16 horas de jejum. A rotina é manter-se o paciente sem comer desde a noite anterior ao ato operatório. Esse período é tido como fundamental para que no momento da indução anestésica o estômago esteja completamente vazio e o risco de aspiração seja mínimo. No entanto, esse tempo é suficientemente longo do ponto de vista metabólico, levando a depleção do estoque de glicogênio, o que tem impacto na resposta orgânica ao estresse, além de gerar desconforto a vários pacientes 1 ,2 . A resposta orgânica apresenta-se aumentada em pacientes submetidos a jejum noturno, quando comparada a pacientes que receberam infusão de carboidratos 1,2 . Logo, o jejum pré-operatório aumenta o estresse metabólico induzido pelo tratamento cirúrgico.A liberação da dieta no pós-operatório é outro ponto controverso que tem gerado inúmeras discussões. Em geral, os cirurgiões aguardam a resolução do chamado íleo pós-operatório, ou seja, eliminação de flatos ou evacuação, para a liberação da dieta. Isso ocorre por volta do terceiro ou quarto dia pós-operatório. Além disso, a tradição cirúrgica orienta a oferta escalonada ou progressiva da dieta líquida, pastosa até à sólida. Essa prática não só pode contribuir com a piora do estado nutricional de pacientes previamente desnutridos, como aumenta o tempo de internação hospitalar 3 . Por outro lado, pacientes submetidos a grandes intervenções e alimentados precocemente apresentam melhor oxigenação da mucosa intestinal 4 , diminuição da resposta orgânica e do número de complicações no pós-operatório 5 -7 , assim como redução do tempo de dismotilidade intestinal 8,9 . É nosso objetivo nesta revisão abordar o impacto do jejum pré-operatório e da nutrição precoce no pós-operatório, do ponto de vista metabólico e da associação com complicações, tempo de internação, custos e conforto do paciente. Assim sendo, paradigmas que até hoje são a rotina cirúrgica pré e pós-operatória serão, seguramente, colocados em questionamento.
Jejum pré e pós operatório versus resposta orgânica ao estresseA necessidade de jejum prolongado, desde a noite que antecede a operação, tem sido questionada e, novas condutas têm sido adotadas [10][11][12] . Na verdade, essa prática foi iniciada, quando as técnicas anestésicas ainda eram rudimentares o que au...