COMÉRCIO JUSTO E HIBRIDISMO ORGANIZACIONAL: Refletindo sobre o arranjo organizacional das cooperativas certificadas pelo Fairtrade

Abstract

O objetivo deste estudo é compreender como os mecanismos da certificação Fairtrade influenciam no arranjo organizacional das cooperativas enquanto organizações híbridas. Fundamentando no hibridismo organizacional como base teórica, o estudo se guia pelas contribuições dos estudiosos interpretativistas de gestão, que consideram as cooperativas como organizações sociais híbridas. Esta investigação estrutura-se como uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, realizada a partir de um estudo de caso em uma cooperativa de cafeicultores Fairtrade do Espírito Santo. Como instrumento de coleta de dados foi utilizada da triangulação de técnicas, por meio de entrevista semiestruturada, observação não participante e documentos, analisados a partir da análise de conteúdo. Os principais resultados apontaram a necessidade de forjar o arranjo da cooperativa ao desenho do Fairtrade, para se adequar aos instrumentos normativos, criando mecanismos de governança específicos para evitar a perda de legitimidade.

Comportamento do consumidor Fair Trade:

“…A partir do desenvolvimento na Europa de inúmeras organizações com tal perfil, surgiu-se a necessidade de criação de sistemas de certificação que atestassem desde a procedência, até a garantia de execução de princípios do comércio justo (Daviron;Vagneron, 2011;Partzsch et al, 2021). Dessa forma, foram criados diferentes selos Fair Trade, geridos por diferentes certificadoras internacionais, mas orientados pelas mesmas diretrizes, valores e práticas organizacionais Rosa, 2022;Reinecke, 2010). Entre os diferentes selos, o selo Fairtrade (grafado junto), instituído pela Fairtrade Labelling Organization (FLO), tornou-se um dos mais conhecidos em todo o mundo e principalmente no Brasil, uma vez que possui uma diretriz para a produção de alimentos via organizações geridas democraticamente como associações e cooperativas (Salguero;Claro, 2015).…”

“…Todavia, no caso do comércio justo, visto aqui como uma causa socioeconômica, ainda é complexo compreender esse caminho no Brasil, pois fatores de ordem pessoal como renda, classe social e estilo de vida, dificultam o acesso aos produtos (Damázio;Coutinho;Shigaki, 2020;Joana;Caletti;Etges, 2022). Produtos com selos Fair Trade são ofertados em pontos de vendas específicos no país e tendem a possuir um valor mais alto que os demais produtos da mesma categoria, uma vez que a maioria possui parâmetros de qualidade superior, além de contarem com vários custos fixos como de armazenagem, distribuição, além do pagamento de royalties para uso do selo Rosa, 2022).…”

“…O comércio justo representa uma alternativa para garantir a produção, a distribuição e o consumo de forma justo e ética, fortalecendo todos os elos da cadeia, a partir de princípios norteadores (Pedregal;Ozcaglar-Toulouse, 2011). Selos do comércio justo vêm sendo utilizados por todo o mundo utilizando nomenclatura Fair Trade Rosa, 2022;Reinecke, 2010).…”