O sucesso e a popularidade que as narrativas gráficas têm alcançado nestas últimas décadas fazem delas um poderoso objeto mediático de comunicação e expressão. Fortemente associadas à cultura popular e de massas, ao entretenimento e à facilidade de leitura, interessa perceber a sua aptidão para a abordagem de temas complexos, como a representação da dor no feminino, frequentemente negligenciada cultural e cientificamente. Nesse sentido, a análise de Nódoa Negra (Lopes et al., 2018), volume de banda desenhada coordenado por Dileydi Florez e que reúne narrativas gráficas criadas por mulheres em torno da temática da dor, mostra-se aqui particularmente relevante. Neste artigo, propomo-nos a explorar o potencial da narrativa gráfica para representar a dor no feminino, tomando como exemplo várias narrativas incluídas em Nódoa Negra. O duplo código semântico texto-imagem, característico da linguagem das narrativas gráficas, permite a multiplicação de recursos discursivos, promovendo maior amplitude de representações. Ao dizer o que não pode ser mostrado, mostrar o que não pode ser dito, e promover a construção de significados no espaço intersticial entre texto e imagem, a narrativa gráfica permite um maior refinamento e expressividade da dor na sua abstração e concretização, entre o dizível e o indizível. O enquadramento teórico-metodológico adotado incide sobre os estudos de cultura e comunicação, os estudos críticos do discurso e as humanidades médicas.