O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) configura-se como principal instrumento de acesso ao Ensino Superior, público e privado. Ao mesmo tempo, também, se acredita poder constituir-se como avaliação, contribuindo para a elaboração de políticas públicas e, por conseguinte, à melhoria da qualidade da educação. Para tanto, diversos trabalhos discutem o desempenho dos participantes em algumas edições do Enem, através do comportamento estatístico dos itens. Frente a essa aparente dualidade, buscamos investigar a relação entre avaliação e seleção, considerando os itens de Física no Enem de 2009 a 2019, a partir do desempenho de todos os participantes nesse período. Com essa abordagem, pretende-se analisar o caráter do próprio instrumento que o Enem representa. Trata-se, ainda, de investigar se existiria alguma relação entre a dificuldade dos itens e as competências às quais estão associados. Os resultados atestam que a quantidade de itens muito difíceis é significativa, comparada a outros percentuais de acertos, o que reforça o papel seletivo do exame; porém, afasta o seu papel avaliador. Em relação às competências e os itens muito difíceis, não foi possível constatar correlações. Por fim, salientamos que este tipo de análise tende a contribuir para, em primeiro lugar, evidenciar as dificuldades dos participantes e, para além disso, orientar futuras possíveis reelaborações do exame, tanto no conteúdo, quanto na forma. Em um desenho mais contundente, explicita que a culpabilização sobre um eventual mau desempenho dos alunos, que muitas vezes recai somente sobre os docentes, pode ser resultado da própria estrutura do exame.