Este estudo objetiva enfatizar a importância das estruturas de competição nos diferentes setores de acordo com a intensidade tecnológica, com base em dois importantes trabalhos com modelos de competição diferentes entre si. Enquanto um modelo acredita que a competição ocorra por meio da diminuição do preço (MELITZ, 2003); em alternativa, o outro considera que ela acontece através de um aumento na qualidade -e nos preços -, pelo fato dos consumidores se preocuparem com a qualidade dos produtos (BALDWIN; HARRIGAN, 2011). Dado que a literatura sobre o tema não considera a separação dos bens de acordo com suas características e/ou potencial tecnológico, portanto, esse é um dos avanços deste estudo. Assim, o intuito do trabalho é estimar a relação entre a vantagem comparativa revelada (VCR) e a qualidade/preço dos produtos exportados. Utilizamos dados dos 70 principais exportadores e importadores, correspondendo a cerca de 90% do comércio mundial, com estimações em cross-section de 2008 a 2017 para produtos industrializados. Desagregamos esta análise estimando os diferentes fatores que afetam a qualidade e o preço das exportações considerando dois grupos de produtos, divididos por intensidade tecnológica, de acordo com a classificação da OCDE (2011) -produtos de baixa e alta tecnologia -e por quantis de preço/qualidade. Utilizamos a ideia de vantagem comparativa com o intuito de captar, de acordo com os princípios ricardianos, as diferenças relativas de produtividade entre os países. A despeito da dificuldade intrínseca de se parametrizar os diferenciais de produtividade, uma métrica de VCR pode ser calculada usando dados comerciais para "revelar" essas diferenças. Foram usados cinco importantes índices de VCR empregados na literatura de forma a mostrar que, apesar de suas limitações, os resultados dessas variáveis sugerem resultados convergentes.Neste contexto, acreditamos que as duas teorias -competição via preço ou qualidade -se adaptam à realidade de maneiras diferentes. Evidências apontam que países que exibem vantagem comparativa sobre produtos com maior conteúdo tecnológico conseguem transformar essa vantagem em avanço técnico e produtivo de forma a aumentar a qualidade de seus produtos. Por outro lado, encontramos que países que exibem vantagem comparativa sobre produtos com menor conteúdo tecnológico investem em melhoria produtiva com o intuito de diminuir seus custos marginais e, portanto, competem no mercado internacional por meio de menores preços. Acreditamos que isso ocorra também por esses tipos de produtos serem mais homogêneos, dificultando que aconteça a competição por meio de uma diferenciação do bem em termos de qualidade. Por fim, as constatações deste trabalho são relevantes para compreender de que maneira os setores mais produtivos dos países competem internacionalmente: por meio de diminuição dos custos ou melhoria na qualidade. Dessa forma, essas informações são importantes para delinear as políticas governamentais que podem ser implementadas a fim de promover a competitividade das empresas.Pa...