A investigação e o manejo de pacientes com episó-dios recorrentes de dor em quadrante superior direito e epigástrica é um desafio, uma vez que existem inú-meras causas, tanto "orgânicas" como "funcionais" (1) . Os sintomas funcionais da vesícula biliar e os distúrbios do esfíncter de Oddi devem ser distinguidos daqueles provocados por colelitíase, pancreatite, doença do refluxo gastroesofágico, síndrome do intestino irritável, dispepsia funcional e úlcera péptica.
Dor biliarO Comitê de Roma III (2) concluiu que a dor biliar (e pancreática) classicamente ocorre com episódios recorrentes de dor severa e constante, localizada na região epigástrica e/ou no quadrante superior direito do abdome, com duração ≥ 30 minutos, não aliviada por evacuações, mudanças posturais ou antiácidos. Na ausência de doença estrutural, por exemplo, cálculos biliares, pancreatite ou malignidade, tais dores podem ser a apresentação de disfunção clínica da vesícula biliar ou do esfíncter de Oddi.O suposto mecanismo para dor tipo biliar em pacientes com a vesícula biliar "in situ" é o aumento da resistência ao fluxo de bile na altura do ducto cístico, enquanto que a obstrução completa produz colecistite aguda. Uma explicação alternativa e mais recente é a presença de determinadas alterações metabólicas e neuro-hormonais geneticamente adquiridas que provocam a baixa contratilidade da vesícula biliar que resulta na bile litogênica, levando a cálculos e colecistite.O mecanismo assumido para a dor biliar (pancreática) em pacientes previamente submetidos a colecistectomia, é o aumento da resistência à bile e/ ou fluxo de secreção pancreática no nível do esfíncter de Oddi. Tanto a estenose como a discinesia podem causar obstrução ao fluxo através do(s) esfíncter(es), com o correspondente aumento de pressão nos ductos biliares. No caso da árvore biliar, este aumento é agravado pela ausência da função de reservatório da vesícula (2) . Quando os episódios de dor forem recorrentes, a medula espinhal ou outros mecanismos centrais também são potenciais fatores que contribuem para a dor, como nos outros transtornos funcionais gastrointestinais.Uma abordagem baseada em evidências é desejável para se evitar erros de omissão ou excessos, os quais podem causar sofrimento desnecessário. O objetivo destes algoritmos e notas é sugerir uma passagem por este complexo labirinto. Infelizmente, alguns dos testes disponíveis dependem do operador e o valor preditivo de vários (por exemplo, estudos de medicina nuclear) é controverso."Suspeita de disfunção do esfíncter de Oddi" é uma área particularmente difícil, onde os dados são escassos e os riscos (de colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) e manometria) são substanciais (3) . Para reduzir a incerteza clínica e limitar a capacidade de invasão, os pacientes são tradicionalmente subagrupados de acordo com a presença ou ausência de alterações detectáveis no ensaio inicial. O diagnóstico de disfunção do esfíncter de Oddi é fácil de ser feito quando os pacientes com dor típica também têm achados conclusivos...