Comportamento suicida durante a pandemia da COVID-19: aspectos clínicos e fatores associados

Abstract

Conflitos de interesse: nada a declarar. ResumoObjetivo: Analisar os aspectos clínicos e os fatores associados ao comportamento suicida durante a pandemia da COVID-19. Métodos:Estudo transversal e analítico, realizado com registros assistenciais de 130 pacientes que buscaram atendimento em emergência psiquiátrica após ideação, planejamento ou tentativa de suicídio. Utilizou-se um formulário para caracterização sociodemográfica, clínica e terapêutica, assim como para identificação das necessidades de cuidados e dos fatores associados. A análise dos dados foi constituída pelos testes Exato de Fischer, Qui-quadrado de Pearson e pela Regressão de Poisson, considerando nível de significância de 5%.Resultados: O comportamento suicida foi expresso pela tentativa de suicídio, ideação e planejamento, predominando no sexo feminino, em adultos jovens, desempregados e de baixa renda familiar, assim como em pacientes com histórico de transtorno mental, de internação psiquiátrica, de tentativas prévias e de abandono terapêutico. As principais alterações psíquicas envolveram ansiedade, depressão, sentimentos de desesperança, alucinações audiovisuais e delírios persecutórios. O consumo de substâncias psicoativas elevou em até 13,8 vezes o risco para tentativa de suicídio e as crises situacionais em 10,6 vezes a ideação. Ainda, a perda de renda e a internação anterior foram associados à manifestação do comportamento. As evidências de cuidados envolveram intervenções medicamentosas, medidas de vigilância e admissão hospitalar.Conclusão: Durante a pandemia da COVID-19, o comportamento suicida foi associado à maior predisposição para o consumo de substâncias psicoativas, crises situacionais e perda de renda. Destaca-se a necessidade de políticas públicas voltadas para identificação, prevenção e gerenciamento adequado dos estados de risco.

Tentativa De Suicídio Em Mulheres Privadas De Liberdade Em Unidade Prisional

“…A pandemia da Covid-19 resultou em consequências físicas e mentais, e milhões de pessoas foram a óbito no mundo 17 . Estudos mostraram o aumento das tentativas de suicídio durante a pandemia dentro e fora do sistema prisional [18][19] . Conquanto a maior frequência das mulheres que participaram deste estudo não estavam privadas de liberdade no início da pandemia, as consequências da pandemia poderão mostrar-se a curto e longo prazo na saúde física e mental da pessoa [18][19] .…”

“…A maioria da amostra deste estudo usava SPA ilícitas, álcool e tabaco. O uso abusivo destas substâncias tem relação com comportamentos suicidas, conforme a literatura [19][20][21] . Algumas penitenciárias permitem o uso do tabaco; porém, evidências relacionam o aumento deste uso com o tempo de privação, gerando consequências físicas e mentais, como problemas respiratórios, cardíacos e aumento do uso de outras substâncias 22 .…”

Suicide Attempts Amomg Women Deprived of Their Freedom in a Prison Unit

“…The COVID-19 pandemic resulted in physical and mental consequences, and millions of people died around the world 17 . A number of studies have shown an increase in suicide attempts during the pandemic, both inside and outside the prison system [18][19] . Although most of the women who participated in this study were not deprived of their freedom at the beginning of the pandemic, its consequences may be evident in the short-and longterm on the person's physical and mental health [18][19] .…”

“…Most of the sample in this study used illicit PAS, alcohol and tobacco. Abuse of these substances is related to suicidal behaviors, according to the literature [19][20][21] . Some prisons allow tobacco use; however, diverse evidence links the increase in this consumption with imprisonment time, generating physical and mental consequences such as respiratory and cardiac problems and increased use of other substances 22 .…”

O comportamento suicida durante a pandemia da COVID-19 no Brasil

“…As repercussões na esfera econômica também foram evidenciadas, verificando-se em estudos internacionais a elevação de duas a três vezes do risco relativo de mortes por suicídios, relacionadas a situações de desemprego (DEADY M, et al, 2020). O estudo com 130 pacientes assistidos por serviço de urgência e emergência psiquiátrica em Teresina o relato de perda de renda acometeu 30,0% da amostra e do desemprego, associando-se à ideação e tentativa de suicídio (ROCHA DM, et al, 2022). No Brasil, esses efeitos também alcançaram os idosos, pois indivíduos nessa faixa etária permanecem em desenvolvimento de atividades laborais no país, em grande parte sem algum vínculo empregatício formal (42,1% antes da pandemia) (ROMERO DE, et al, 2021).…”