Conflitos, verdades e política no Museu da Escravidão e da Liberdade no Rio de Janeiro

Abstract

Resumo Esse artigo se propõe a analisar a tentativa de implementação do Museu da Escravidão e da Liberdade (MEL), marcada por sucessivas dificuldades e cujo intuito é trazer a “verdade” sobre a escravidão. Acreditamos que o MEL se encontre no cerne de intensas disputas políticas mais amplas, daí as adversidades que encontra. Por um lado, ele expressa as dificuldades do movimento negro em trazer a público as memórias da escravidão. Por outro, ele revela os embates entre projetos voltados para ações afirmativas, reparação e reconhecimento no novo contexto político conservador que ocorre tanto na administração pública federal quanto na municipal. Para tanto, nos inspiramos na noção de “rituais abortivos”, de Trouillot, para quem as evocações memorialísticas e os pedidos públicos contemporâneos de desculpas por crimes cometidos no passado esvaziam-se do seu potencial político e não possuem um caráter verdadeiramente transformador.

Percepções sobre cultura, saúde e religiosidade em museu senzala

“…De acordo com esse cenário, ressalta-se que o infeliz legado da escravidão reaparece como trauma histórico a ser superado e serve de base aos pedidos de reparação. 12 Tal sentimento avigora a importância de momentos extra sala, que possibilitem experiências reais que despertem novas formas de pensar e agir.…”

Cais Do Valongo (Rj): Apropriações, Memórias E Celebrações

“…A questão, no entanto, seria: como uma dada sociedade lê o seu próprio passado? Para responder justamente a essa pergunta, Nora (1993: 22) As tensões e os conf litos em torno dos achados arqueológicos que vieram à tona com o desenterramento do Cais do Valongo envolveram diferentes representações sobre a escravidão, bem como sobre a criação de museus ou memoriais (Vassalo & Cáceres, 2019). Nas narrativas construídas por diferentes órgãos da prefeitura, vimos serem reveladas pelo menos duas visões de cidade.…”

Marielle restored? Mortuary graphisms, memory and ritual in intersectional and anti-racist responses to necropolitical violence in Rio de Janeiro

“… 17. While not as old as the civic rebellion against the tyranny of Tarquinius Superbus and the foundation of the Roman Republic, the vandalisation of anti-racist and anti-fascist memorials, graphisms and articles of public art also has a long and more factual history, as do, among Black and anti-racist militants in Rio, comparisons between the Holocaust and the Black genocide (Hipolito, 2017; Vassalo and Cáceres, 2019). In this regard, a controversial monument to the victims of the Holocaust was commissioned in 2017, as part of Mayor Marcelo Crivella’s efforts to ingratiate himself with the local Jewish community and to display the clout of his Universal Church of the Kingdom of God.…”