Em Juchitán de Zaragoza, cidade mexicana da região do Istmo de Tehuantepec, há o que se convencionou chamar de ‘terceiro gênero’, as muxes. Com o objetivo de discutir a possibilidade de existência de um espaço de gênero não binário em sociedades não-ocidentais, colocou-se a questão: o que as muxes podem informar sobre a possibilidade de se pensar sob uma perspectiva de gênero menos binarista? Para isso, tomou-se como base teórico-metodológica a concepção de Henri Lefebvre sobre a produção do espaço e suas três dimensões conceituais: a prática espacial; as representações do espaço; e os espaços de representação. Por meio de uma reconstituição historiográfica do espaço geográfico, da condição das mulheres e da construção da identidade muxe, concluiu-se que o espaço produzido pelos corpos muxes é um espaço diferencial que resiste às imposições coloniais, negocia com os discursos das mídias, dialoga com os espaços acadêmicos e emerge como questionamento às forças que tentam ocultá-los.