Coordenação Grupal Em Uma Modalidade De Cuidado: Grupo Comunitário De Saúde Mental

Abstract

O Grupo Comunitário de Saúde Mental (GCSM) configura um programa de cuidado e de promoção de saúde mental, aberto à comunidade e alinhado aos princípios da Reforma Psiquiátrica, desenvolvido ao longo de mais de 23 anos, mediante a prática, a observação sistemática e a investigação científica. O objetivo deste estudo foi compreender o papel do coordenador nesta modalidade. O corpus da pesquisa foi constituído a partir de seis sessões grupais áudio gravadas e transcritas na íntegra. Foi delineado um percurso original de análise, em que todas as intervenções do coordenador foram descritas, analisadas e contextualizadas em relação ao momento e desenvolvimento da sessão grupal. Foram identificados eixos comuns às intervenções, que as caracterizam: ‘O enquadre no Grupo Comunitário de Saúde Mental’; ‘O olhar para o gesto humano nas contribuições’; e ‘A participação pessoal do coordenador’. A partir destes, observou-se que a forma de coordenar o GCSM guarda relação com a proposta da atividade e sua fundamentação teórica, filosófica e empírica, inspirada pela fenomenologia clássica. O enquadre, as intervenções e o posicionamento do coordenador favoreceram a constituição de um espaço de cuidado intersubjetivo, em perspectiva de horizontalidade, a partir da tarefa de reconhecer experiências cotidianas significativas ao percurso de amadurecimento da pessoa humana. Nesse sentido, este esta pesquisa aponta para a relevância do estudo aprofundado de aspectos das práticas grupais, como a coordenação, como forma de melhor descrevê-las e compreendê-las.

A Etapa Reflexiva: uma análise sobre o momento final do Grupo Comunitário de Saúde Mental

“…A observação empírica trouxe a constatação de que os relatos das experiências de vida, que eram realizados pelos participantes nessa atividade, contribuíam para o trabalho grupal e estimulou a mudança da tarefa central dos encontros, que passou a focalizar o compartilhamento dessas vivências. Tal reformulação ampliou as possibilidades de troca entre os membros do grupo e a acessibilidade da tarefa grupal, reforçando a característica do Grupo Comunitário como atividade aberta, que incluía, além dos usuários do serviço de saúde mental, os seus familiares, os profissionais e estudantes da área da saúde e os membros da comunidade Prado & Cardoso, 2020;Rocha, 2015).…”

“…O Grupo Comunitário foi constituído, ainda, a partir da atenção para as transformações advindas do processo de Reforma Psiquiátrica, considerando, principalmente, a necessidade de formular novos instrumentos terapêuticos consoantes com o paradigma biopsicossocial Prado & Cardoso, 2020).…”

“…Os encontros do Grupo Comunitário de Saúde Mental são realizados com a participação aberta a qualquer pessoa interessada, conforme destacado anteriormente. O objetivo central do trabalho é promover o amadurecimento pessoal e o cuidado à saúde mental a partir do exercício de contemplação, identificação, elaboração e compartilhamento de experiências cotidianas Prado & Cardoso, 2020).…”

“…A Etapa Reflexiva tem início, no processo grupal, após a intervenção do coordenador dos encontros, o qual é responsável por assinalar a passagem entre os diferentes momentos (Sarau, Relato de Experiências e Etapa Reflexiva), marcando o começo e o término de cada um deles e oferecendo explicações sobre seus objetivos e suas características particulares (Prado, 2020).…”

“…A pluralidade entre os integrantes é uma característica fundamental para o trabalho grupal e para o desenvolvimento da dimensão comunitária nos encontros do GCSM. Nesse sentido, cabe destacar que a perspectiva comunitária não determina a perda da diferença, mas preserva a singularidade única e irrepetível de cada participante (Prado & Cardoso, 2020). Supõe, nas palavras de Stein (1922de Stein ( /2005, uma vida "dirigente", "originária e própria" (p. 485, tradução nossa).…”