Corpo, Gênero e Capoeira

Abstract

Mediante inspirações feministas nos Estudos Culturais Físicos este estudo analisa, por meio de relato autoetnográfico, experiências junto ao Grupo Abadá Capoeira do Vale do Araguaia, problematizando questões sobre corpo, gênero e capoeira, a partir das relações de poder presentes nessa manifestação. As experiências advém da participação da primeira autora no referido grupo desde 1996, e são tomadas como elementos empíricos para leituras autorreflexivas. Por meio da autoetnografia, houve a construção de quatro categorias, as quais apontam para a produção da ginga de mulheres como possibilidade de subversão de relações de poder que integram a capoeira. Como resultado, destacamos que as narrativas auxiliam no entendimento acerca das relações de poder que atravessam a capoeira de modo a servir de aporte para aqueles que integram essa manifestação corporal.

Dança, Capoeira E Interseccionalidade

“…Assim como a dança, a capoeira é impactada por questões de gênero, com diferenças nas expectativas de como homens e mulheres devem participar "da roda". Tais discussões têm feito parte do debate acadêmico brasileiro, com inúmeras investigações que têm apontado para as narrativas de mulheres na capoeira (ARAÚJO; SOUZA; MARANI, 2022;BARBOSA, 2017;BEZERRA, 2014;CAMÕES, 2019;DANTAS, 2020;FERREIRA, 2016;FIRMINO, 2011;FIALHO, 2019;FRANÇA, 2021;JESUS, 2017;MARTINS et al, 2021;PINHEIRO, 2018;REIS, 2018;SILVA, 2018;SILVA, 2019;SENA, 2016) em distintos contextos geográficos do Brasil. Além disso, as questões de classe também desempenham um papel, com a capoeira sendo historicamente associada às comunidades mais marginalizadas, que eram (e são) menos favorecidas (PERKOV, 2012).…”

“…Desse entendimento dos ECF, reconhecemos na referida abordagem possibilidades do exercício interseccional, dado o entendimento de que os marcadores sociais da diferença nunca aparecem de forma isolada, pois estão sempre articulados na experiência humana (ZAMBONI, 2014). Como efeito desse olhar, não é incomum observar produções que, no interior dos ECF, acenam para as possibilidades interseccionais para a compreensão das complexas relações do esporte, da atividade física, do lazer, entre outras (ESMONDE;JETTE, 2018;HAYHURST;CENTENO, 2019;OLIVE, 2017;ROBERTS et al, 2019;MARFELL, 2019;SOUZA;MARANI, 2022). Logo, nota-se a perspectiva interseccional no interior dos ECF para impedir "aforismos matemáticos hierarquizantes ou comparativos.…”