Cotidiano e implicações da violência contra as mulheres: revisão narrativa da produção científica de enfermagem. Brasil, 1994-2008

Abstract

RESUMOA violência é um fenômeno complexo que tem, em suas raízes, a interação de fatores biológicos, econômicos, sociais, culturais, históricos, éticos e políticos. Os objetivos deste estudo foram identificar a produção científica brasileira de Enfermagem na temática da violência contra as mulheres; descrever o cotidiano da violência e discutir as implicações na saúde da mulher. Trata-se de estudo de revisão narrativa de literatura, com busca dos artigos pela base de dados LILACS, com as palavras "violência" and "mulher" or "mulheres", no período de 1994 a 2008. Foi desenvolvido mapeamento estatístico e análise de conteúdo. Ao analisar a dimensão do cotidiano, entende-se que mulheres e profissionais compreendem a violência como natural e habitual, demarcada no espaço domiciliar e nas relações conjugais estabelecidas entre homens e mulheres. As implicações da violência contra as mulheres resultam em agravos de ordem física e mental na saúde, constituindo uma violação dos direitos humanos e um problema de saúde pública a ser enfrentando pelos profissionais de saúde.Palavras-chave: Enfermagem. Saúde da Mulher. Violência Contra a Mulher. INTRODUÇÃOA violência é um fenômeno complexo que tem, em suas raízes, a interação de fatores biológicos, sociais, econômicos e políticos. Sua definição perpassa noções de comportamentos aceitáveis e inaceitáveis em uma sociedade. É influenciada pela cultura e o contexto histórico de sua produção; também está submetida a contínua transformação, à medida que valores e normas sociais assumem novos significados (1) . A violência contra as mulheres compreende situações diversas, como violência física, sexual, psicológica e moral. As ações de violência são cometidas, na maioria das vezes, pelos próprios parceiros íntimos das mulheres. Os resultados dessas ações repercutem em perdas significativas na saúde e qualidade de vida dos envolvidos (2)(3) . Não se trata de fenômeno recente, exclusivo do mundo contemporâneo, mas sim constitutivo da história da humanidade. A partir da década de 1990, tal situação foi somente reconhecida e denunciada por organizações e convenções internacionais como agravo à saúde pública e uma violação aos direitos humanos do segmento feminino (2,4) . Compreender esse fenômeno do ponto de vista da saúde pública oferece caminhos para captar as muitas dimensões que a violência assume, no sentido de reconhecer seus aspectos sociais, epidemiológicos, psicológicos, jurídicos, e a necessidade de desenvolver respostas multisetoriais. No entanto, essa complexidade, é apontada por sua invisibilidade social, uma vez que não há um campo de intervenção e saberes que possa ser reconhecido como objeto específico de seu domínio (2) . Os serviços de saúde configuram-se como lócus para identificação da violência e ____________________ 1 Recorte de projeto de mestrado intitulado "O vivido da mulher que denuncia a violência: perspectivas para Enfermagem a partir da fenomenologia social" vinculado ao Programa

Violência no contexto das relações familiares: implicações na saúde e vida das mulheres

“…Esses papéis retomam a velha posição da mulher dentro do núcleo familiar -a de mãe, educadora, dona de casa e esposa. Na perspectiva das relações familiares, tal concepção sobre a mulher, tão cobrada pela sociedade e pela cultura vigente, sujeita as mulheres às normas impostas pelo seu companheiro agressor (4)(5)(6) , sendo o âmbito privado demarcado como espaço de ocorrência da violência. É neste cenário que atos violentos perpetrados contra as mulheres se manifestam em suas mais variadas formas (4) .…”

“…Na violência intrafamiliar e doméstica as agressões são perpetradas pelo companheiro/marido ou excompanheiro/ex-marido. A identificação do marido ou companheiro como agressor gera, por vezes, vergonha e medo de falar abertamente, e assim a mulher convive com a violência (5,7) . Nesse contexto, os matizes da violência contra as mulheres mostram a imagem da mulher submissa, dominada, oprimida numa relação de inferioridade e dependência para com o sexo masculino.…”

“…Nesse contexto, os matizes da violência contra as mulheres mostram a imagem da mulher submissa, dominada, oprimida numa relação de inferioridade e dependência para com o sexo masculino. Esses achados exprimem a submissão ao poder dos homens como uma das potenciais causas da violência vivenciada pelas mulheres, reforçando a necessidade masculina de dominar seu corpo, deixando-as vulneráveis a processos de adoecimento específicos desta relação (5,8) . Em estudo com mulheres submetidas à violência conjugal física, aquelas agredidas a tapas apresentaram probabilidade 24 vezes maior de ter sido ameaçadas por arma ou sofrido violência por uso de arma, em comparação com mulheres nunca agredidas.…”

“…Nesse contexto, faz-se importante os profissionais da saúde conhecerem no âmbito de suas atividades as implicações dessa violência no contexto das relações familiares, para que a partir deste reconhecimento os profissionais e serviços de saúde lancem um olhar atentivo, traduzido em uma assistência resolutiva e integral. É necessário que a equipe profissional seja qualificada e encontre, nas redes de apoio do Estado, dos serviços de saúde, da comunidade e da família, subsídios para enfrentamento dessa problemática (5) . Destaca-se assim, o reconhecimento do problema como uma questão de saúde pública que exige uma intervenção social e governamental por meio de políticas públicas.…”

Representações sociais de mulheres sobre violência contra a mulher nas relações conjugais na cidade de Maputo, Moçambique

“…Desse modo, sua definição e busca pela compreensão deve perpassar noções de comportamentos aceitáveis e inaceitáveis em uma sociedade, dado que se encontra submetida a contínua transformação à medida que valores e normas sociais assumem novos significados (Vieira, Padoin & Paula, 2010).…”