A toxicodependência apresenta-se ligada a outros problemas, como a prática criminosa e a vitimação. Esta última não tem sido suficientemente explorada, verificando-se que os inquéritos de vitimação não apuram o papel das drogas nas ocorrências criminais, nomeadamente, no que diz respeito à vítima. Contudo, é frequente a presença de substâncias, tanto no ofensor, como na vítima ou em ambos. Este trabalho explora alguns modelos teóricos que acabam por corroborar a ideia de que o toxicodependente é frequentemente vítima de crime, apresentando-se um questionário construído para a realização de inquéritos de vitimação sobre a população toxicodependente. Através do instrumento podem inquirir-se os indivíduos a respeito da vitimação vivida no período antecedente à toxicodependência e na fase de dependência. Assim, após os dados sociodemográficos, questiona-se a vitimação prévia à dependência, as circunstâncias e condições dessas ocorrências, seguindo-se outra parte referente à vitimação vivida na fase de toxicodependência, às circunstâncias e condições em que tal se verificou, havendo sempre referência ao eventual papel das drogas consumidas, pelas vítimas e/ou ofensores. Conclui-se ser muito importante avaliar a vitimação de populações específicas como esta, devendo atender-se ao papel das drogas e integrando-se a componente da vitimação nos programas de atendimento a toxicodependentes. Várias análises à relação droga-crime (Agra, 2002;Brochu, 2006;Nunes, 2011a;Seddon, 2006) têm-se centrado essencialmente no dependente de drogas como potencial ofensor, sendo inquestionável essa associação entre o consumo problemático de substâncias e a prática criminosa. No entanto, pode afirmar-se que as situações em que o toxicodependente se apresenta como vítima não são raras e constituem mais uma das configurações dessa ligação entre droga e crime (Nunes,
Palavras-chave:
79A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Laura M. Nunes, Universidade Fernando Pessoa,