Recebido em 16 de outubro de 2023Foi em fevereiro de 2022 quando publicamos o último editorial da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE), referente ao seu volume 44. (Mascarenhas et al., 2022). Ainda vivíamos sob os efeitos pandemia da COVID-19, cujas repercussões e impactos, para além dimensão sanitária e epidemiológica, foram também de ordem econômica, política, cultural e histórica.Em maio deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou o fim da emergência de saúde global causada pela Covid-19. Estimativas apontam que, no mínimo, 20 milhões de pessoas faleceram no mundo e, conforme dados do Ministério da Saúde (MS), desde o início da pandemia foram registradas mais de 700 mil mortes no país (MS, 2023).Vale lembrar que a pandemia chegou ao Brasil em meio a um cenário de desmonte do Estado, desfinanciamento das políticas sociais, precarização da saúde pública, ataques à educação e desmoralização das universidades, comprometendo ainda mais a capacidade de resposta do país à Covid-19. O saldo da política negacionista do governo Bolsonaro, para além das vidas perdidas que poderiam ter sido salvas, foi a desorganização da ciência, com o sucateamento da infraestrutura de pesquisa no país.Não obstante, em 2022, a produção científica brasileira registrou queda, o que não ocorria desde 1996. Relatório da editora científica Elsevier e da Agência Bori divulgado em julho revela que a produção científica mundial aumentou 6,1% em 2022. Mas 23 países registraram queda na quantidade de artigos publicados. O Brasil foi o país que registrou a maior redução na publicação de artigos científicos no ano, com um total de 74,5 mil títulos publicados, o que representa um decréscimo de 7,4% em relação a 2021. (FAPESP, 2023).Infelizmente, a RBCE também registrou queda na publicação de artigos científicos. Porém, com um decréscimo bem maior, de 22,4%, o que representa 52 títulos publicados em 2022 (volume 44) contra 67 em 2021 (volume 41). A hipótese levantada para explicar a redução da produção científica brasileira está relacionada com os efeitos da pandemia, os cortes de verbas, a indisponibilidade de recursos laboratoriais e insumos, os lockdowns e as restrições de deslocamento. (FAPESP, 2023). No caso da RBCE, é certo que a queda do número de submissões e artigos publicados segue a tendência geral, justificando-se pelos mesmos motivos. Mas o que explicaria esse desempenho bem mais negativo? A hipótese que consideramos no momento é a de que a esta queda ocorreu, em grande medida, por causa do novo Qualis Periódicos.O chamado novo Qualis, oficializado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em 29/12/2022 (porém, divulgado em 2019), é referente ao quadriênio de avaliação 2017-2020. Diferentemente das versões anteriores, instituiu novos estratos de classificação -A1, A2, A3, A4, B1, B2, B3, B4 e C -e avaliação unificada. No quadriênio anterior (2013-2016), os estratos eram divididos em A1, A2, B1, B2, B3, B4 e B5 e C. Outra diferença é que antes o Qualis era elaborado separadamente por ...