Resumo: Os autores relatam um caso de paniculite criptocócica em paciente transplantado renal inicialmente tratado como celulite bacteriana. O diagnóstico definitivo só foi possível pela impressão clínica dermatológica confirmada pelo exame micológico. O tratamento foi realizado a princípio com anfotericina B e posteriormente com fluconazol, considerando-se as interações das drogas imunossupressoras utilizadas para evitar rejeição. A regressão clínica foi alcançada no sexto mês de tratamento, que, no entanto, foi mantido por 12 meses. São feitas considerações a respeito dessa forma rara de criptococose cutânea em transplantado de órgão sólido e suas implicações diagnósticas e terapêuticas. Maria da Glória C. Barreiros
5A criptococose é infecção fúngica de comportamento oportunista, pouco comum em pacientes imunocompetentes, mas freqüente em imunocomprometidos , especialmente naqueles com deficiência predominante da imunidade celular. Assim, os portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) e os transplantados de órgãos sólidos podem ser considerados integrantes da população de risco. [1][2][3] O sítio mais acometido é o pulmonar, já que a via inalatória é a principal porta de entrada da infecção, podendo haver posterior disseminação para outros órgãos. Nos pacientes de criptococose disseminada, o acometimento da pele pode ocorrer em 10-15% dos casos, 2,4 com apresentação variável incluindo paniculite. 5,4 Nos transplantados renais, a criptococose ocorre em 0,8 -5% dos pacientes, na dependência do tipo e da intensidade da imunossupressão.3 A infecção é geralmente observada no pós-operatório tardio, cerca de quatro meses após a introdução das drogas imunossupressoras.