A Igreja Católica, em muitos momentos, foi signatária desse estado de coisas. O seu projeto universal de construção de uma nova identidade em um mundo laicizado gerou, no Brasil, um conjunto de valores, normas, padrões e condutas que modelou e, de certa forma, ainda modela uma concepção profundamente fatalista do cotidiano, na qual o destino individual, a realização profissional e o acesso a uma melhor condição de vida dependem, exclusivamente, de um conjunto de forças sobrenaturais alheias à objetividade material da realidade cotidiana. Na atividade docente, em especial, a recente expansão e consolidação do projeto neoliberal de educação no país criou uma espécie de condição aparentemente imutável para o magistério: os profissionais da educação são todos missionários, semeadores no deserto, cidadãs e cidadãos abnegados que, independentemente das políticas públicas, da remuneração e das organizações de classe estão dispostos a ensinar, mesmo sabendo que a satisfação e o reconhecimento social por essa atividade são praticamente apenas objetos de recompensa moral. Gestores, gerentes, modelos de qualidade total, multiplicadores, facilitadores do conhecimento: novos termos requentados de um ideal profissional que, na realidade brasileira, começou a ser gerado na Contra-Reforma, talvez atingindo no neoliberalismo o seu grau máximo de sofisticação.